Rute e Noemi, uma das mais belas histórias de amizade e companheirismo na Bíblia, um relato da vida de duas mulheres de nações diversas, cujos laços familiares se estreitaram pela dor – Parte I
Aos leitores da Bíblia Sagrada, a
história da trajetória da ancestral de Davi, o maior rei da nação de Israel, a
quem Deus faz promessa de conservação de sua descendência – e de quem deveria
descender o próprio Cristo – o livro de Rute não é um simples relato da
história de tristeza e dor de Noemi. Tampouco dos laços que uniram sogra e nora,
Noemi e Rute, respectivamente. Mas sim, a história da providência divina em
meio às adversidades da vida. Revelando que um Deus presente não desampara nem
mesmo uma pobre viúva que, para completar tamanha dor, perdera também seus dois
filhos. Ficando ela numa terra estranha.
Já no início do livro, no primeiro
versículo, acontece o relato da peregrinação da família de Noemi aos Campos de
Moabe – da região dos Moabitas. Este era um povo que descendia de Moabe, fruto da
relação incestuosa entre Ló e sua filha mais velha (Gn 30-38), depois que
saíram de Sodoma, salvos da destruição dessa cidade pelo julgamento divino, e
foram habitar numa caverna na região de Zoar [pequeno]. Segundo Josefo, as
filhas de Ló acreditaram que os homens da terra haviam sido mortos e que não
seria pecado se tivessem filhos com o próprio pai a fim de dar continuidade à
existência humana sobre a terra. Entretanto, o povo moabita foi grande responsável
pela maior sedução carnal que Israel experimentou.
A história de Noemi se passa durante
o tempo em que havia juízes em Israel, não havia ainda reis. E na maior parte
do tempo, segundo o que está escrito, o povo fazia o que era mau aos olhos do
Senhor. Como consequência, havia punição ao povo a fim de que este se voltasse
para Deus. A fome, perseguição pelos inimigos circunvizinhos, inclusive os
próprios moabitas. Segundo o historiador Flávio Josefo, a história de
Abimeleque e Noemi, habitantes de Belém, de Judá, se passa depois da morte de
Sansão - juiz sobre Israel por 22 anos -, quando o sacerdote Eli começa a
julgar Israel. Abimeleque [ou Elimeleque], Noemi, Quiliom e Malom foram para os
Campos de Moabe. Abimeleque casa seu filho mais velho, Quiliom, com uma moabita
chamada Orfa que significa “corça nova”, e o filho mais novo, Malom, com outra
moabita, Rute, cujo nome significa “Amizade”. O curioso nessa história, entre
tantas outras narradas pelas Escrituras, é que o casamento de um hebreu deveria
ser com mulheres hebreias, jamais com mulheres estrangeiras, justamente porque
Deus sabia que desses relacionamentos haveria contaminação por causa do pecado
da idolatria. As nações eram pagãs e adoravam deuses estranhos à nação de
Israel. Deus os chamava de abominações.
E muitos se contaminaram com os deuses das terras estrangeiras até ao ponto de
sacrificar os próprios filhos.
Mas Rute preferiu o Deus de Noemi, cujo
nome também é bastante sugestivo. Embora significasse “amável, agradável,
encantadora”, por causa de sua tríplice desgraça, Noemi considerava-se Mara, ou
amarga, por causa da dor da perda de seu esposo e dos dois filhos. Restava-lhe,
porém, a lembrança de sua terra. Após dez anos, muita coisa deveria ter mudado.
Resolve voltar e suas duas noras desejam acompanhá-la. De acordo com Ann
Spangler e Jean Syswerda (Elas: 52
mulheres que marcaram a história do povo de Deus – Editora Mundo Cristão), “mesmo
tendo sofrido uma tragédia tríplice, Noemi recusou-se a esconder sua tristeza
ou amargura. Por crer na soberania de Deus, atribuiu seu sofrimento à vontade
dele, mas sua fixação nas circunstâncias, tanto passadas como presentes, levou-a
à desesperança. Sogra bondosa e amorosa, inspirou amor e lealdade extraordinários
em suas noras”. Embora Noemi tenha conseguido fazer com que Orfa mudasse de
ideia quanto a acompanhá-la de volta para casa, Rute não quis abandonar sua
sogra. E profere uma das mais usadas frases em casamentos pela profundidade do
sentimento que aqui foi dispensado por Rute a sua sogra, numa verdadeira
expressão de amor: “Disse, porém, Rute: Não me
instes para que te abandone, e deixe de seguir-te; porque aonde quer que tu
fores irei eu, e onde quer que pousares, ali pousarei eu; o teu povo é o meu
povo, o teu Deus é o meu Deus; Onde quer que morreres morrerei eu, e ali serei
sepultada. Faça-me assim o SENHOR, e outro tanto, se outra coisa que não seja a
morte me separar de ti”. Rt 1: 16-17.
Então
Rute seguiu com sua sogra Noemi em direção à terra de seu falecido marido.
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