Bolha
E cá entre nós...
Não é todo dia, mas tem momentos que você sente-se expulsa com uma força assustadora de determinados ambientes. A Igreja é o lugar que mais gosto de ir. Eu sei que lá é a casa de Deus, escolhida por Ele para tratar os seres humanos. E vou te falar... às vezes esse tratamento dói muito... porque as situações são tão estranhas que você pensa: "Poxa vida, estou chateada [só] por isso?". Às vezes quando me aproximo de determinados grupos na Igreja [porque todo segmento tem seus grupos] nem percebo a bolha de uma força igualmente invisível que te impulsiona para longe daquelas pessoas. Não sei se a bolha está em torno deles ou de mim. Mas acho que é, sim, certamente, essa bolha está ao redor deles. Você chega perto, às vezes perto demais, então dá a oportunidade de as pessoas conhecerem sua intimidade, seus defeitos, até mesmo seu perfume. E quando você pensa que está 'no grupo', que se achou em um lugar, simplesmente o limite da bolha faz com que ela use toda a força para te levar ao lado oposto...
É um desabafo, com certeza. Mas eu nem sei se alguém vai ler, ou se ler, se terá algum ganho com isso, ou mesmo se a pessoa se identifica com esse sentimento, mas em todos os grupos há essa bolha. Não importa se ele é composto por homens ou mulheres. Se é misto. Se é de pessoas de nível social elevado ou médio ou baixo. Se esse grupo é composto de pessoas que te acompanharam por toda a vida, o fato é que há sempre um grupo do qual você deseja participar realmente. E porque não podemos? Qual a barreira? Porque essa bolha insiste em nos manter de fora, ou afastados? Assim, a sensação que temos é que de uma forma ou de outra, as pessoas se comunicam e não sabemos o que falam, o que fazem, ou como fazem. O certo é que, nem sempre, nós somos aceitos em algum lugar.
Quando falamos em grupos religiosos então. Meu Deus. Quando Jesus iniciou o seu ministério terreno, diversas vezes ele repreendeu com certa fúria os religiosos. Eu não sou e não quero jamais ser religiosa. Eu sou e faço parte de um Reino que não é daqui. Ele foi iniciado por Jesus na terra e seus seguidores, os discípulos, continuaram a levar a sua Palavra de lugar em lugar, de geração em geração por séculos, até o dia que se chama hoje. Mas as Palavras dependendo do contexto adquirem conotações diferentes, elas nos impactam de forma diferente e nos faz reagir a elas de forma diferente. Jesus jamais recusou uma pessoa que se aproximou dele. Ele tocou em leprosos [coisa que para um judeu era considerada imunda por causa da Lei - mas nesse caso, a lepra era contagiosa, poderia passar de uma pessoa para outra, então a Lei era boa], o que fazia com que a pessoa separada da convivência dos familiares, parentes e amigos se sentisse ainda pior. A separação por causa de uma enfermidade como a lepra deveria ser terrível. E hoje continuamos a isolar pessoas das quais sentimos nojo, olhamos para ela e só vemos nela o pecado [lepra, no sentido espiritual]. Jesus comia com pecadores. Você já se imaginou sentando-se à mesa com o atual presidente dos Estados Unidos? Ele convidaria você para jantar ou mesmo fazer uma refeição em sua casa? Ou ainda, ele aceitaria um convite seu para lanchar, almoçar, jantar em sua casa?
Jesus fez isso. Ele quebrou protocolos. Ele aceitou as pessoas à sua volta, independentemente de sua classe social. Quando estudamos e analisamos a vida dos discípulos, vemos que na verdade, a maioria deles tinha um caráter difícil, moldado nos três anos e meio que Cristo andou com eles e transformado para terem o poder de lidar com pessoas: 'pescadores de homens'. Jesus entendia a nossa fraqueza, mas nunca passou a mão na cabeça dos religiosos, porque sabia que eles detinham o conhecimento da Lei, mas não praticavam a Lei. E a própria Bíblia nos ensina o cumprimento da Lei e dos profetas: o Amor. Cristo é o Amor de Deus revelado ao homem. João 3:16 diz isto: "Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho Unigênito para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna". João começa nos dando uma razão: porque. A razão de sermos cristãos e de nos reunirmos diante do Senhor é porque Deus amou o mundo; é porque Deus deu o seu Filho Unigênito. João termina nos falando do propósito de Deus em amar e dar o Seu Filho Unigênito: para que todo aquele que nele crê não pereça, mas, ao invés disso, alcancem, tenha a vida eterna.
Mas por que então, nós não conseguimos amar? Não falo do amor divino, do amor ágape, mas do amor que é possível a todo ser humano, de olhar para o outro e saber que ele é também humano: ama, sofre, sorri, se magoa, tem defeitos, tem limitações, tem momentos de desabafo, como este que estou tendo. O Senhor sempre nos mandou buscar a justiça. Ninguém sabe o que isso significa? O que é justiça? Quando penso nisso, só vejo uma balança nas mãos de uma mulher com os olhos vendados. Balança. Equilíbrio. Venda nos olhos é para não nos dar a chance de escolher a quem beneficiar, porque o Senhor amou o mundo, isto é, todas as pessoas no mundo, incluindo eu e você. Eu não posso cerrar as portas do céu escolhendo quem entra e quem fica de fora. As chaves do inferno e da morte estão nas mãos de Jesus. Graças a Deus por isso. Ele disse: "Todo aquele que o Pai me der vem a mim, e o que vem a mim, de maneira nenhuma lançarei fora". Eu acredito que por isso ele sofreu a dor dos espinhos. Porque só um espinho pode estourar uma bolha, pode quebrar algo que nos mantém fora da comunhão do corpo.
Mais do que amor, Jesus precisa nos dar um pouco do seu espinho. Precisamos estourar a bolha da indiferença. Precisamos arrebentar com a bolha da falta espiritualidade. Me dá nojo o tipo de hino que é cantado pela maioria dos que se dizem cantores 'gospel'. Me perdoem, mas a palavra é esta: nojo. E, lendo mensagens como a Jonathan Edwards em seu sermão 'Pecadores nas mãos de um Deus irado', mais tenho convicção da nossa condição de miséria e de pecado diante de Deus. Voltando ao aspecto da justiça, nós recebemos perdão, nós fomos aceitos como 'nós somos' e por que achamos que temos que melhorar os outros? Por que achamos sempre que as pessoas deveriam ser desse ou daquele modo? Por que achamos que é difícil amar 'os outros', quando na verdade, somos nós que carecemos de mudança, de transformação.
E voltando um pouco mais para esclarecer o nojo que sinto das músicas gospel da atualidade, é que quase 100% das letras põe 'você' em situação de vítima. Temos que vestir a carapuça e começar a observar onde está a bolha ao redor de nós. Qual é o nosso grupo? Quem temos deixado de fora? Porque do mesmo modo que nós tentamos transpor barreiras para nos aproximarmos de determinados grupos, alguém está tentando transpor uma barreira para se aproximar de nós. Pode ser nosso cônjuge, nosso filho ou filha, irmão ou irmã, um parente próximo ou distante. Pode ser um mendigo, uma prostituta, ou homossexual, um padre, um pastor de outras denominações, um testemunha de Jeová, um espírita, um ateu, um preso, um bandido, pode ser alguém que chamamos 'escória' da sociedade. Pode ser um estrangeiro, um índio, uma pessoa que nunca vimos antes porque passamos na mesma rua por anos a fio e não sabemos sequer o tipo de construção tem naquela via, muito menos que em cada pedacinho da cidade tem uma pessoa que é um ser como eu e você que só deseja 'estar no e com o grupo'.
Que Deus nos ajude a entender o plano dele para nossas vidas e que possamos entender que esse plano inclui outras pessoas que consideramos indignas, mas que são igualmente amadas por Ele. Ele é Pai de todos nós. E como um Pai que ama e se preocupa com o filho, Deus ele nos vê com nossas falhas e defeitos, nos perdoa os pecados, mas exige que sejamos, no mínimo, justos com nossos semelhantes, a saber, que também perdoemos e saibamos entender as fraquezas alheias, Amor, perdão e gratidão, precisamos exercitar isso em nossa vida. Só assim iremos entender que se somos filhos de um mesmo Pai, somos todos irmãos. Se somos irmãos, temos o mesmo sangue. Se temos o mesmo sangue, temos que fazer a eles o que gostaríamos que fizessem conosco. Só assim, exterminaríamos com as bolhas em torno dos grupos que deixarão de existir. Para o bem de todos nós.
Deus abençoe sua vida.
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