Sinceros e sem escândalo algum!
A graça e a paz de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Com um enorme senso de privilégio, mais uma vez o Senhor me concede a oportunidade de avançar um pouco mais na carta de Paulo aos Filipenses. Hoje gostaria de focar um pouco no versículo 10, ainda do capítulo primeiro. "Para que aproveis as coisas excelentes, para que sejais sinceros, e sem escândalo algum até ao dia de Cristo".
Nesta sequência, gostaria de me deter de modo mais pormenorizado - e peço ao Espírito Santo do Senhor que nos conduza a isso - nas quatro expressões grifadas acima: aproveis, sinceros, sem escândalo e até ao dia de Cristo. Acredito que em nossa geração está difícil encontrar sinceridade e ausência de escândalos. E não digo apenas no mundo secular, bem representado pelas mais diversas esferas da sociedade. Mas digo entre nós irmãos, considerados a Igreja de nosso Senhor Jesus Cristo.
1. Para que aproveis as coisas excelentes!
A preposição 'para', utilizada nesse contexto por Paulo, significa um "fim" ou um "objetivo" a ser alcançado e está estritamente ligada ao contexto anterior que diz: "E peço isto: que o vosso amor cresça mais e mais em ciência e em todo o conhecimento {para}...". (Fp 1.9). O vocábulo 'ciência' no original é /'epignosis'/ [1922 Strong] e significa conhecimento preciso e correto. Esse vocábulo no Novo Testamento é usado para o conhecimento de coisas éticas e divinas. O vocábulo 'conhecimento', por sua vez, foi traduzido de /'aisthesis'/ [144 Strong] que significa percepção, não apenas pelos sentidos, mas pelo intelecto. Seria o conhecimento, o discernimento moral em assuntos éticos. Esse amor, então, está intimamente ligado às questões éticas e morais, mas mais ainda, está intimamente relacionado ao amor de Deus que é Cristo Jesus nosso Senhor. Quando nosso amor cresce em conhecimento e discernimento das coisas éticas e divinas há um objetivo, um fim a ser alcançado, que é aprovar as coisas excelentes!
Podemos perceber que é algo que vai além de emoção, isto é, nosso amor deve aumentar em todo o conhecimento, por meio de percepções, e não apenas pelos sentidos e, sim, intelectualmente falando. Na atualidade, o que mais vemos são mensagens que tocam apenas a alma, a emoção, os sentidos mais primários de um indivíduo. Não é assim que aprendemos nos ensinamentos do Senhor e também dos apóstolos. Porque todos os ensinamentos que recebemos na Palavra têm como finalidade nosso nascimento, crescimento e amadurecimento no Senhor, a fim de sermos semelhantes a ele. Nós que somos filhos de Deus.
Não trataremos agora do modo como isso acontece, mas nos deteremos na finalidade de isso acontecer: para que aproveis as coisas Excelentes! O vocábulo utilizado para 'aproveis' é /'dokimazein' de 'dokimazo'/ [1381 Strong] que significa testar, examinar, provar, verificar (ver se uma coisa é genuína ou não), como metais*. Reconhecer como genuíno depois de exame, aprovar, julgar valioso. /'dokimazo'/ provém de /'dokimos'/ [1384 Strong] que significa aprovado, particularmente de moedas e dinheiro. Aprovado, agradável, aceitável. Citando um ensinamento de Donald Grey Barnhouse, Strong registra:
* "No mundo antigo não havia sistema bancário como nós o conhecemos hoje, e nem dinheiro em papel. Todo dinheiro era feito de metal, aquecido até se tornar líquido, despejado em moldes e deixado para esfriar. Quando as moedas estavam frias, era necessário polir os cantos irregulares. As moedas eram comparativamente brandas e, é claro, muitas pessoas cortavam pequenas fatias do metal. Em um século, mais que oitenta leis foram promulgadas em Atenas, para parar a prática de cortar as moedas que estavam em circulação. No entanto, algumas das pessoas que cambiavam o dinheiro eram homens íntegros, que não aceitariam dinheiro falsificado. Eram pessoas honradas que colocavam em circulação apenas dinheiro genuíno e com peso correto. Tais homens eram chamados de 'dokimos' ou 'aprovados'".
Então, aprovar as coisas excelentes seria colocar em circulação apenas aquilo que é genuíno, não falsificado. Paulo, escrevendo aos Coríntios, em sua segunda carta diz: "Antes, rejeitamos as coisas que por vergonha se ocultam, não andando com astúcia nem falsificando a palavra de Deus; e assim nos recomendamos à consciência de todo o homem, na presença de Deus, pela manifestação da verdade". Vamos ficar com a última parte do versículo: manifestação da verdade! Manifestar é o oposto de ocultar. As pessoas ocultam aquilo de que têm vergonha. Mas a verdade do evangelho, a verdade do amor que o Senhor nos ensinou, a verdade do caminho direito, do conhecimento, da ciência, de tudo aquilo que o Senhor nos expôs na Palavra, segundo a Sua Vontade, isso deve ser manifesto e aprovado.
Todo o crescimento do amor em ciência e em conhecimento visa o aprovar as coisas excelentes. Mais ainda, visa outra finalidade que é para que sejamos sinceros e sem escândalo algum. O vocábulo /'heilikrineia' ou 'heilikrineis'/ [1506 Strong] é formado a partir de /'heile'/ 'raio de sol' e significa pureza, sinceridade, ingenuidade, simplicidade. Sincero é alguém que é puro, imaculado. Alguém que é achado puro quando aberto e examinado à luz do sol. A bíblia diz: "Porque nos convinha tal sumo sacerdote, santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores, e feito mais sublime do que os céus". Hb 7.26. O nosso Senhor Jesus é nosso exemplo e medida para que sejamos trabalhados pelo Santo Espírito, mediante o lavar da Palavra, que é a verdade, em nosso espírito.
Agora podemos analisar o vocábulo 'escândalo' /'aproskopos'/. O vocábulo /'aproskopos'/ [677 Strong] significa o que nada tem para bater contra ou fazer tropeçar, que não causa tropeço. Seria um caminho plano. Metaforicamente significa aquele que não conduz outros ao pecado pelo modo de vida que leva; que não bate contra ou faz tropeçar; metaforicamente também significa não arrastado ao pecado, sem culpa, sem ofensa, não perturbado por uma consciência de pecado. Um cristão nesse aspecto não leva o outro a tropeçar, ele tem um fiel testemunho em sua própria maneira de viver, até o dia de Cristo.
Essa expressão '[o] Dia' vem do vocábulo /'hemera'/ [2250 Strong], derivado de /'hemai'/ descansar. Possui o mesmo significado de 'manso', 'dócil'. O sentido de /'hemera'/ é o dia, usado do dia natural, ou do intervalo entre o nascer e o pôr do sol, como diferenciado e contrastado com a noite; durante o dia. Metaforicamente "o dia" é considerado como o tempo para abster-se de indulgência, vício, crime, por serem atos cometidos de noite e na escuridão. O uso oriental deste termo difere do nosso ocidental. Qualquer parte de um dia é contado como um dia inteiro. Por isso a expressão "três noites e três dias" não significa literalmente três dias inteiros, mas ao menos um dia inteiro e mais partes de dois outros dias. O último dia desta presente era, o dia em que Cristo voltará do céu, ressuscitará os mortos, levará a cabo o julgamento final, e estabelecerá o seu reino de forma plena. E, por fim, de modo geral, significa os dias da sua vida.
Nós não aguardamos o dia de Cristo. Mas devemos ser puros, sinceros, sem escândalo algum em todo o tempo em que vivermos. Ainda aos Filipenses, Paulo os exorta: "Para que sejais irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus inculpáveis, no meio de uma geração corrompida e perversa, entre a qual resplandeceis como astros no mundo". Fp 2.15. Se Cristo é o nosso modelo, como vimos em Hebreus 7.26, e ele é Santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores, do mesmo modo temos que ser como ele. É ele o nosso modelo de vida, de conduta, de testemunho diante de Deus e dos homens.
E de que forma podemos alcançar essa maturidade? Paulo exortou os filipenses a "que o vosso amor cresça mais e mais em ciência e em todo o conhecimento" que nós já mencionamos anteriormente. Sempre firmados na verdade, no pleno conhecimento de Cristo Jesus. Esse será um assunto a ser discutido posteriormente. Agora, devemos ter em mente que há um propósito, um objetivo, uma finalidade nesse crescimento do nosso amor, a saber, que aprovemos as 'coisas excelentes'. O vocábulo aqui é /'diapheronta' de 'diaphero'/ [1308 Strong] que significa, nesse contexto, diferir, testar, provar as coisas boas que diferem. Fala sobre distinguir entre o bem e o mal, legal e ilegal, aprovar o que é excelente, não concordar com alguém; sobressair, superar alguém, impessoalmente, faz diferença, importa, é de importância.
Podemos falar aqui que Paulo esperava que os irmãos em Filipos pudessem ser, não apenas sinceros, mas que soubessem, e assim o fizessem, discernir entre aquilo que importa e o que não importa, entre o que é santo e o que é profano, entre o que é de Deus e o que não é, sempre nessa dicotomia de termos que indicam o que é verdadeiro do que é falso no Caminho. Que o Senhor venha trazer essas verdades ao âmago do nosso coração, a fim de que sejamos irrepreensíveis diante dele. Vamos abrir os nossos corações para o falar do Senhor. Que sejamos pessoas que não apenas repetem o que ouvimos, mas que possamos realmente crescer em ciência e em conhecimento de Cristo Jesus e da verdade por Ele nos apresentada.
Que Deus abençoe tua vida em Cristo Jesus.
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