Uma Luz em Meio às Trevas
É muito gratificante ler a biografia de nossos irmãos do passado, especialmente, daqueles que foram tocados pela vida e obra de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, durante um período tão negro da história da Igreja: a Idade Média. Mas, como ao longo de toda sua história, desde a morte e ressurreição de Jesus Cristo, a Igreja do Senhor Jesus tem sido unificada pelo "fio prateado da graça", como dizia nosso irmão Andrew Miller, e o operar do Espírito de Deus, em prol da sua edificação. As juntas e medula desse corpo são unidas no Espírito pelo vínculo da paz (Ef 4.3).
Durante a Idade Média a ignorância total das Escrituras caracterizou a maioria dos adeptos religiosos, uma vez que a leitura e a escrita eram exclusividade clerical, mas o retorno à Palavra de Deus, que passou a ser reconhecida como única autoridade em questões relacionadas à fé - anteriormente ligadas ao Papa -, relacionadas à salvação e à doutrina, foi crucial para a Reforma da Igreja, tão massacrada por homens ímpios que detinham o poder e a autoridade sobre diversos assuntos espirituais ou não.
A vida da Igreja foi sufocada durante um longo período por decisões que a mantinham como perseguidora de todos os contrários ao pensamento papal, à imoralidade e à infidelidade, tornando-se responsável por milhares de mortes, não exercendo a graça, a misericórdia, o amor e o perdão, armas do cristão para um viver que o identifica com o seu Senhor. Esse despertar, provocado pela Graça Salvadora que há em Cristo Jesus, levou os irmãos em direção à Verdade e à Santidade.
Hoje, gostaria de tecer alguns comentários a respeito dessas características que nos identificam com o Senhor, rogando ao Senhor que nos conduza por Sua Palavra, a fim de sermos edificados juntamente em Seu Corpo, que é a Igreja. Para isso, precisamos ter em mente que a obra de Deus em nosso favor começa nEle e não em nós. Desse modo, o primeiro versículo que gostaria de mencionar é João 3.16: "Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho Unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna".
O primeiro vocábulo que iremos estudar é 'Amou', cujo original vem da forma verbal /'agapáo'/, que significa 'receber alguém com alegria, acolher, gostar muito, amar ternamente'. A forma derivada substantiva é /agape/, que é o amor fraterno, de irmão, afeição, boa vontade, amor, benevolência. Então, diz o versículo que Deus nos amou, nos recebeu com alegria, de boa vontade. Há um episódio narrado em João capítulo 13 em que Jesus lava os pés de seus discípulos. Depois ele diz que sendo ele mesmo Mestre e Senhor fez algo de modo tão servil, nós, como seus discípulos, devemos igualmente servir uns aos outros, sendo Jesus nosso modelo, nosso padrão, nosso exemplo, conforme podemos ler em João 13.15: "Porque eu vos dei exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também". O vocábulo original para exemplo, padrão {como traduzido para o inglês} é /'hupodeigma'/, que é um sinal sugestivo de algo, representação, figura, cópia.
O exemplo dado por Jesus é para que façamos igualmente. Esse lavar os pés seria honrar o próximo como membro do mesmo corpo. Pense em nosso corpo físico. Imagina se as nossas mãos se recusassem a lavar os pés porque são pés. Entretanto, em obediência ao nosso comando cerebral, ela faz isso de forma instantânea e natural. E é assim que somos convidados a tratar os nossos irmãos no Corpo de Cristo, que é a Igreja. Em João 13.34 Jesus diz: "Um novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei a vós, que também vós vos ameis uns aos outros".
O que temos visto em nossos dias são mensagens e músicas ditas 'gospel', mas que incitam o ódio, a competição e a superioridade de uns em detrimento de outros. Esses mensageiros da última hora realmente acreditam que Deus favorece uns e castiga outros; que alguns nasceram com cara de vencedor, por isso são amados e queridos por Deus; que alguns são como pedras preciosas escolhidas entre os cascalhos, como se os "outros" fossem o cascalho; que os "outros" serão castigados porque atiraram pedras; falaram mal e por aí vai. O Senhor não nos ensinou isso. Antes, o nosso Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo nos nivelou a todos igualmente para sermos conformados à imagem de Seu Filho Amado.
Paulo exorta os irmãos Coríntios a concordarem uns com os outros, a fim de não haver divisão no corpo, sendo totalmente unidos. Vejamos: "Suplico-vos, queridos irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que concordeis uns com os outros no que falam, a fim de que não haja entre vós divisões; antes, sejais totalmente unidos, sob uma mesma disposição mental e no mesmo parecer." (1 Coríntios 1.10). Essa frase inteira "sejais totalmente unidos" foi traduzida de um único vocábulo no original, que é /'katertismenoi'/, ou /'katartizo'/ [2675 Strong] que é usado eticamente no sentido de fortalecer, aperfeiçoar, completar, tornar-se no que se deve ser. Como membros do corpo de Cristo devemos dar condições ao outro de se tornar o que ele deve ser completando-o, fortalecendo-o e aperfeiçoando, o que é totalmente contrário a denegrir, ofender, podar, excluir o outro do Corpo.
Seguindo adiante no dizer de Paulo, devemos estar unidos, isto é, dando condições ao outro de se tornar o que ele deve ser, sob uma mesma disposição mental e o mesmo parecer ou julgamento. Em sua introdução, na primeira epístola aos irmãos em Corinto, Paulo diz que esses irmãos foram santificados em Cristo Jesus, chamados para serem santos e que, em tudo eles foram enriquecidos em Cristo Jesus, em toda palavra e em todo o conhecimento. E que o testemunho de Cristo foi confirmado entre eles, de modo que nada, nenhum dom, lhes faltava, enquanto aguardavam a manifestação de nosso Senhor Jesus Cristo. E que o próprio Senhor os confirmaria até o fim, para que eles fossem irrepreensíveis no dia de nosso Senhor Jesus Cristo; porque Fiel é Deus, pelo qual foram chamados para a comunhão de seu Filho Jesus Cristo nosso Senhor. (1 Co 1.2-9). Agora, Paulo suplica aos irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que concordassem uns com os outros, falando a mesma língua. Isto é, que tivessem o mesmo discurso.
Paulo diz que devemos andar de modo digno para com o chamado que recebemos. Esse vocábulo 'digno' vem do original /'axios'/ [516 Strong] um advérbio que significa 'apropriadamente'. /'Axios'/ significa algo que tem o mesmo peso que outra coisa de valor semelhante, que vale tanto quanto. Fala daquilo que é adequado, próprio, conveniente, comparável a algo; fala também de alguém que mereceu algo de valor. Pode ser usado no sentido bom como mal. Então o que Paulo diz é que devemos andar de modo adequado ao nosso chamamento. Fomos chamados para sermos semelhantes a Cristo, conforme lemos em Romanos 8.29: predestinados para sermos semelhantes à imagem [caráter>caractere é como uma letra que você aperta no teclado e aparece na tela, seria a cópia de uma coisa original] de Jesus Cristo. Santos [santidade, que é a vida de Cristo em nós] e irrepreensíveis [consagração, em relação ao que fazemos - nosso modo de agir e de corresponder ao nosso chamamento].
Em Colossenses 3.14 lemos que devemos nos revestir do amor, que é o vínculo da perfeição, ou da maturidade. Então o cristão maduro age conforme aprendeu de seu Senhor: O apóstolo João, sobre esse assunto, diz que aquele que não ama o seu irmão permanece em trevas e vaga pela escuridão, porque as trevas turvam a visão e a pessoa não sabe para onde está indo. Esse foi o problema dos irmãos, principalmente, no período chamado de Idade das Trevas. Nesse tempo, ódio, sentimento de superioridade e perseguição foram as marcas daqueles que se diziam eleitos de Deus. Mas hoje não é diferente. O ódio, o sentimento de superioridade e a perseguição estão mascarados nas canções e pregações que fazem parte da manifestação pública "cristã", mas não é essa a marca de Cristo. Muitos fazem apologia ao ego, aos sentimentos mesquinhos e à falta de amor. E o próprio Senhor Jesus disse que as pessoas conheceriam que somos discípulos de Jesus por meio da nossa expressão de amor.
Nosso "sucesso espiritual", ou a nossa vitória, depende do quanto desejamos morrer para que a vida de Cristo esteja em nós. De modo algum essa vitória depende do que os irmãos fazem a mim, ou do que faço em relação aos irmãos, ou em relação à obra. Não se trata de mim. Se trata de Cristo. O quanto estamos caminhando naquilo que temos recebido do Senhor, o quanto amamos o Senhor e o quanto desejamos viver para Ele só podem ser expressos naquilo que fazemos para o próximo, do mesmo modo que faríamos para o Senhor Jesus Cristo. Esse processo deve ocorrer "até que todos alcancemos a unidade da fé e do [pleno] conhecimento do Filho de Deus, e cheguemos à maturidade, atingindo a medida da estatura da plenitude de Cristo" (Efésios 4.13).
Então podemos concluir que o Amor é a Verdade espiritual no ato de Deus enviando Seu Único Filho a fim de nos reconciliar consigo mesmo. Mas muitos de nós ainda estamos cegos para compreender isso. Além de crer no fato de que a morte e a ressurreição de Cristo Jesus consistem num sacrifício suficiente para nos perdoar, nos reconciliar e nos levar de volta ao Pai, podemos crer que isso só foi possível porque Ele nos amou primeiro. E quando isso aconteceu? Antes que todas as coisas existissem. Ele nos elegeu em Cristo Jesus para sermos santos e irrepreensíveis em sua presença (Efésios 1.4); e, em seu amor nos predestinou para sermos filhos por intermédio de Jesus Cristo, segundo a benevolência da sua vontade (Efésios 1.5); nos outorgou a sua gloriosa graça gratuitamente no Amado (Ef 1.6); nos predestinou para sermos para o louvor da sua glória (Ef 1.12).
Paulo diz aos Filipenses 1.9-11: "E suplico isto em oração: que o vosso amor fraternal cresça cada vez mais no pleno conhecimento e em todo entendimento, a fim de que possais discernir o que é melhor, para que vos torneis puros e irrepreensíveis até o dia de Cristo, plenos do fruto de justiça, fruto este que vem por meio de Jesus Cristo para glória e louvor de Deus. O sofrer e o avanço do Evangelho". Outra vez a questão do Amor. A Bíblia diz que Deus é amor (1 Jo 4.8). E que o amor de Deus é que nos move (1 Jo 4.6). Nós conhecemos o amor de Deus quando Deus permanece em nós e nós permanecemos em Deus. Dessa forma, o amor é aperfeiçoado em nós, porque permanecemos no amor e esse amor em nós (1Jo 4.16). O amor de Deus está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo (Rm 5.5). Nós somos a expressão desse amor para o mundo quando Cristo Jesus é expresso em nossos atos de amor, em nossa vida, em tudo o que fazemos. Então dizer que a Igreja é a expressão de Cristo é dizer que Cristo é expresso por meio da Igreja.
Que Deus fale mais profundamente em nossos corações, nos ajudando a conhecer esse imutável, insondável, infinito amor de Deus. Para que sejamos irrepreensíveis diante de Deus, no Dia de Cristo.
Deus abençoe tua vida em Cristo Jesus.
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