Levitas ontem e hoje: a crise de identidade

Lição de n. 7 da Revista Betel - EBD. Texto Àureo: "E lhes disse: Ouve-me, ó levitas; santifica-vos agora, e santificai a casa do Senhor, Deus de vossos pais, e tirai do santuário a imundícia". 2 Cr 29:5.

Introdução - Antes de entrarmos na lição, gostaria de apontar três aspectos importantes presentes no texto escolhido: ouvi, santificai, tirai. O Senhor primeiramente chama a atenção dos levitas para que O 'ouçam'. O primeiro aspecto encontra-se no vocábulo 'ouvir' que significa, antes de tudo, 'dar atenção', 'corresponder'. Em diversas passagens na Bíblia, o Senhor diz: 'Dai ouvidos às minhas palavras'; 'ouvi-me'; 'estai atentos'. Não é o mero ato de ouvir, mas um ouvir com atenção, correspondendo o falar do Senhor por intermédio do Espírito Santo. O segundo aspecto está no vocábulo 'santificai'. Santificai-vos e santificai a casa do Senhor. Embora na atualidade nos tornamos 'casa/templo/tabernáculo do Senhor', a distinção feita pelo Senhor é literal, o Senhor manda que os levitas se santifiquem a si mesmos e santifiquem igualmente o templo [O edifício erigido por Salomão para cultuar a Deus]. Primeiro vem o ouvir, atendendo o ouvir vem o 'santificar' cujo termo está relacionado [ou pelo menos deveria] com a realidade daqueles que buscam aproximar-se de Deus. Um viver santo significa um viver separado de tudo o que é comum ou profano. Se tomarmos a atitude do viver no espírito, veremos que as obras que praticamos por meio do nosso corpo podem honrar ou desonrar o Filho de Deus. E quanto mais nos aproximamos do Senhor e da Sua vontade, mais abandonamos as práticas mundanas, demonstrando que o falar do Senhor encontrou um caminho em nós, que Sua Palavra tornou-se viva e eficaz em nosso viver cotidiano, não apenas quando estamos na reunião da igreja. Isso vale tanto para nós quanto para a casa de Deus. Não devemos introduzir nessa casa nada que profane o Santo nome de Deus. Para aqueles que banalizaram o sentido da graça, que acham que podem e vivem uma vida desregrada, falar de uma vida separada é, no mínimo, 'roubar' o real sentido da graça. Mas, não é isso que o Espírito Santo comunica ao nosso coração quando nos aplicamos à leitura sistemática da Palavra. Neste blog temos alguns estudos a respeito da graça para aqueles que gostariam de aprofundar um pouco mais no assunto. E o terceiro aspecto é 'tirai' tudo aquilo que contamina o santuário. Não vamos santificar algo que o Senhor considera impuro, imundo, antes devemos arrancar da presença dEle tudo o que fere a Sua Santidade.

1. Semelhanças e diferenças - Neste tópico, o comentarista da lição faz uma comparação entre os levitas descritos no Velho Testamento e os 'levitas' da atualidade.

1.1 Esvaziamento das palavras - O levita na Bíblia tinha o encargo do serviço do templo. Ele era encarregado de manter em ordem, limpo e funcionando todo a aparelhagem do templo. Mais que isso, ele também era encarregado de prover com azeite todas as lâmpadas, de prover o incenso, o pão. O levita não era um mero 'cantor', mas um adorador do Senhor. E a palavra 'adorador' tem perdido o real significado nos tempos atuais. A Bíblia diz que o povo padece por falta de conhecimento (Os 4:6). É por meio do conhecimento que vem o discernimento das coisas espirituais e carnais. Só teremos o conhecimento quando nos dedicarmos à leitura da Palavra, ao estudo sistemático e à aplicação das verdades contidas na Bíblia em nosso viver. Malaquias 2:7 diz: "Porque os lábios do sacerdote guardarão a ciência, e da sua boca buscarão a lei, porque ele é o anjo do Senhor dos Exércitos". Esse versículo refere-se ao Sumo Sacerdote. Ele não só é o encarregado do serviço do Senhor, como também do fardo do povo. Há uma responsabilidade dobrada. Embora isso se cumpra no ministério de Jesus, o anjo do Senhor (todo o cargo eclesiástico, especialmente, o pastor) é responsável pelo que o povo apreende da Bíblia. Da sua (do sacerdote) boca o povo buscará a lei do Senhor para que viva. Embora todo o cristão tenha obrigação de ler a Bíblia e buscar do Senhor o entendimento e a compreensão por intermédio do Espírito Santo, o propósito apascentador do pastor é conduzir as ovelhas às águas tranquilas e aos patos verdejantes, isto é, prover o que elas necessitam para o crescimento (falando especificamente do pão e da água que fazem com que a 'ovelha' cresce e se robusteça até a maturidade).
O que vemos na atualidade são levitas e sacerdotes que não sabem ou que perderam a essência do verdadeiro culto ao Senhor, da verdadeira adoração. Não adoramos a Deus com palavras, mas com nosso viver num íntimo relacionamento com Ele. E essa intimidade só poderemos alcançar mediante leitura e prática dos preceitos contidos na Bíblia; jejum; oração; consagração. Não são as palavras que cantamos que tocará a realidade espiritual, mas o nível de intimidade que temos com Deus farão com que as músicas sejam expressão do nosso viver, da nossa realidade no corpo de Cristo. Deus nos chama para uma vida plena, mas não haverá plenitude em nosso viver se não mergulharmos no conhecimento de Deus e de Seu Eterno Propósito.

1.2 Semelhanças técnicas, diferenças teológicas - Há uma passagem na Bíblia, no Evangelho Segundo escreveu João capítulo 4, em que o Senhor Jesus declara para uma mulher samaritana que o Pai procura adoradores que O adorem em Espírito e em Verdade (v. 23,24). Verdade é o oposto de falsidade. O coração daqueles que se aproximam de Deus para adorá-Lo devem expressar essa verdade. As palavras cantadas são primeiramente vividas. Mas para que isso aconteça, devemos primeiro restaurar a centralidade que Lhe pertence em nós e no centro de nossos cultos. Nas letras de muitas canções ditas gospel, ou evangélicas, ou de 'louvor' ou, pior ainda, de 'adoração', podemos observar certa semelhança: as músicas falam pelo homem, do homem e para o homem. O Senhor tornou-se um mero lembrete de alguém a quem você possa recorrer caso necessite. Isso precisa nos incomodar. O que precisamos realmente nos dias de hoje é trazer de volta a Palavra de Deus para nossas reuniões para, então, podermos ofertar ao Senhor nosso 'sacrifício de louvor'. Desse modo, a diferença entre os levitas hoje e da antiguidade será apenas na questão da aparência, não da essência.

1.3 Semelhanças físicas, diferenças espirituais - Deus conhece o nosso coração, a nossa intenção, aquilo que nos move em Sua direção ou para longe dEle. Vejamos o que o Senhor disse: "Mas tu (Arão) e teus filhos contigo guardareis o vosso sacerdócio em todo o negócio do altar; e no que estiver dentro do véu, isto administrareis; eu vos tenho dado o vosso sacerdócio em dádiva ministerial, e o estranho que se chegar a ti morrerá. Disse mais o SENHOR a Arão: E eu, eis que te tenho dado guarda das minhas ofertas alçadas; com todas as coisas santas dos filhos de Israel; por causa da unção que as tenho dado a ti e a teus filhos por estatuto perpétuo". (Nm 18:7,8). O encargo do serviço na casa do Senhor e a administração de tudo quanto o Senhor tem entregue aos levitas, ou sacerdotes, são dádiva ministerial. "Eu sou a tua parte e a tua herança' (v.20). O levita tem um encargo, uma responsabilidade diante de Deus e dos homens. Deus os escolheu com um propósito que é servir. No Novo Testamento esse é um dos critérios para o serviço ministerial também. 

2. Levita como marca de legitimidade - a busca pela 'marca' vai além da identidade. Marca seria o modo pelo qual algo é conhecido. Basta observarmos as marcas de perfumes, de carro, enfim, de tudo o que se pode comprar e vender, trocar etc.  Algumas pessoas desejam tanto ser conhecidas que se esquecem que a 'marca' que eles devem possuir é a do Senhor Jesus: Gl 6:17 "Desde agora, ninguém me inquiete; porque trago no meu corpo as marcas do Senhor Jesus ". Será que podemos dizer que trazemos as marcas do Senhor Jesus?

2.1 O problema do ego: a doença da superioridade - A Bíblia nos ensina justamente o contrário. Somos servos, chamados para servir. O servo não é superior a seu Senhor. Nem aos outros servos. Aquele que recebe o encargo de servir passa a ser responsável pela manutenção da casa, dos conservos e dos bens que o Senhor pôs a seu dispôr, devendo restituir tudo a seu tempo. A Igreja atualmente tem gerado muitas crianças mimadas que desejam serem atendidas em tudo, o tempo todo, a qualquer custo. Essas crianças acham que são o centro das atenções do Pai e que Jesus fez o que fez para lhe dar carta branca para viver do modo como quiser. Quando não atendidas, essas crianças fazem birras e até emburram, abrem ministérios a torto e a direita, sem ao menos conhecer a vontade de Deus. Não precisamos de novas igrejas, templos mais suntuosos, maiores e luxuosos para nos encontrar com o Senhor. Precisamos de um retorno verdadeiro à essência do cristianismo, que é Cristo em tudo e em todos. Há muitas pessoas que evitam usar o termo 'cristão'. Preferem ser 'crentes', 'evangélicos' e temos até um dia para comemorar isso. Mas o verdadeiro cristão expressa Cristo, uma vida de Reino e de cruz.

2.2 O perigo da distorção: o desrespeito à Palavra - Aqui podemos considerar um pecado gravíssimo quando se trata da vida e do exercício do sacerdócio. Satanás usou o artifício da distorção para enganar Eva no Jardim. Ele 'distorceu' o que Deus havia falado. Atualmente, muitos têm distorcido a Palavra com o intuito de enganar o próximo. Outra vez falamos da necessidade de conhecer a Bíblia e as Verdades contidas em suas páginas. Há uma passagem bastante conhecida nas Escrituras que diz: "Escondi a Tua Palavra no meu coração, para eu não pecar contra ti". (Sl 119:11). Antes de ser assunto aos céus, Jesus fez a promessa de enviar o Consolador: a pessoa do Espírito Santo que nos fará lembrar tudo quanto ele nos tem dito. O Espírito da Verdade que não falará de si mesmo (Jo 14).  200Talvez o viver da igreja esteja faltando a pessoa do Espírito Santo. Por isso há tantas distorções e do que está escrito na Bíblia. Entretanto, a interpretação da Bíblia não é individual (2 Pe 1:20). Aqui Pedro fala sobre o anunciar a vontade e o conselho de Deus. Tudo o que compartilharmos com os irmãos no nome do Senhor deve ser com muito temor no coração.

 2.3 A crise dos holofotes: o terrível medo do esquecimento - Mais uma vez o ego. O oposto de ser esquecido é ser lembrado. Ainda que sejamos 'famosos', se levantará uma geração que não nos conhece. Foi assim com José (Ex 1:8) e com todas as gerações cujos antepassados deixaram de ensinar as leis do Senhor. Não precisamos ser famosos, entretanto, fará toda a diferença se formos lembrados por alguém que se converteu ao Senhor por nos ouvir falar, ou cantar, ou pelo nosso testemunho na terra. Devemos resgatar essas verdades. A Bíblia diz que receberemos galardão por tudo o que fizermos por intermédio do nosso corpo, seja bom ou ruim. Galardão fala de recompensa, não de salvação.

3. Redescobrindo o servir - Como anteriormente mencionado, o levita tem a seu encargo o servir (Nm 1:50-53, 3:9, 8:19).

3.1 A vida como serviço ao Senhor - Na medida em que caminhamos percebemos que só podemos viver depois que tivermos sido crucificados com Cristo. A vida então de modo algum precede a morte, antes, ela toma o seu lugar. Quando nos sacrificamos em nosso dia a dia a fim de cumprirmos os desígnios do Senhor, percebemos que nada é maior do que o que ele planejou para nós. Vida. Não essa cheia do conhecimento do bem e do mal, mas aquela repleta do pleno conhecimento do Senhor. Temos que avançar em nosso viver espiritual, mas só avançaremos depois de aplicarmos o nosso coração à busca do conhecimento dEle. Ele deseja se revelar a nós, primeiramente, depois através de nós. Não há como repartir um azeite se a vasilha estiver vazia. Mas a partir do momento que tivermos um pouco de azeite, o Senhor o fará multiplicar em todas as outras até que não reste mais nenhuma a ser preenchida. Os leitores da Bíblia sabem do que estou falando. (II Re 4:1-7).

3.2 Servir por amor - Quando amamos, todo sacrifício parece pequeno. Quando amamos, não há espaço para o ego, mas para o Senhor Jesus e seu corpo, a Igreja. Passamos a olhar as necessidades espirituais das pessoas que jazem no mundo e o desejo ardente em nosso coração de arrebatá-las só aumenta, porque olharemos não mais com os olhos carnais, mas com os olhos espirituais. Cumpriremos o 'ide' do nosso Senhor e Salvador Amado e não esperaremos em nossas reuniões barulhentas, mas sem o falar do Senhor, que os ímpios venham. O Senhor disse: Ide. Mas nós dizemos: Venham. Por que precisamos ir? Porque os enfermos precisam de visita; os presos que vamos vê-los; os famintos que lhes demos pães; os sedentos que lhes demos água; os nus que lhes cubramos. Assim nascerá sobre nós o Sol da Justiça. 

3.3 Servindo além dos horários de culto - As nossas reuniões são necessárias para a comunhão do corpo de Cristo. É o local onde o Senhor fala aos nossos corações e onde trabalha o nosso caráter. Precisamos da comunhão com os irmãos, mas antes de tudo, precisamos saber que a nossa vida com e em Cristo é diário, contínuo e real. Não somos cristãos porque estamos reunidos no templo. Nos reunimos nos templos porque somos cristãos. Se essa não for a realidade, algo precisa ser mudado. Precisamos de foco, de voltar ao que o Senhor primeiramente nos ensinou. Jesus se reunia com os irmãos nas sinagogas dos judeus. Mas era lá fora, onde os pecadores estão, que ele mais realizou milagres e transformações. Ele disse: e esses sinais seguirão aos que creem (Mc 16:17,18). Se nos seguem é porque estamos caminhando.

Conclusão - oro para que a realidade do verdadeiro culto ao Senhor seja restituído nestes dias, especialmente, em minha própria vida. Que o Senhor tenha misericórdia de nós e nos esclareça em nossa ignorância, a fim de podermos realizar a Sua Vontade. Que Ele encontre em nós um lugar para nos revelar a Si mesmo pela sua Palavra.

Deus abençoe sua vida.


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