Uma palavra sobre a Mesa do Senhor

Tomemos primeiramente algumas referências. Mt 26:26-28: "Enquanto comiam, Jesus tomou o pão, e abençoando-o o partiu, e o deu aos seus discípulos, e disse: Tomai, comei, isto é o meu corpo. E, tomando o cálice e dando graças, deu-lho, dizendo: Bebei dele todos. Porque isto é o meu sangue, o sangue do Novo Testamento, que é derramado por muitos, para remissão dos pecados"; Mc 14:22-24: "E comendo eles, tomou Jesus o pão e, abençoando-o, o partiu, e deu-lho, e disse: Tomai, comei, isto é o meu corpo. E, tomando o cálice e dando graças, deu-lho e todos beberam dele. E disse-lhes: Isto é o meu sangue, o sangue do Novo Testamento, que por muitos é derramado". Também encontramos em Lc 22:17-20 e em I Co 11:23-25.

Paulo inicia o versículo 23 de I Co 11 dizendo: Porque eu recebi do Senhor o que também vos ensinei. Depois ele repete as palavras de Jesus: porque, todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes deste cálice anunciai a morte do Senhor até que venha.

Há uma grande verdade no propósito da Ceia, e este propósito é anunciar a morte do Senhor em nosso próprio viver. Tenho observado em muitos lugares, por onde tenho andado, o modo como as pessoas celebram a Ceia do Senhor. E é por essa causa que Paulo sentiu a necessidade de escrever a esse respeito aos irmãos da igreja em Corinto. Na atualidade, percebo que não há nenhuma realidade nessas reuniões. Aliás, quando vejo o pão e o vinho [suco de uva] cobertos sobre uma mesa à frente do altar, a imagem que me vem à mente é de um caixão posto diante das pessoas, sem que ninguém tivesse ligação alguma com o morto e nem se importasse com a presença dele ali. Posso ir além e afirmar que até num velório já ouvi palavras mais respeitosas ao redor do caixão e do corpo que ali se encontra, do que diante da Mesa do Senhor. É com muito pesar e tristeza em meu coração que digo essas palavras e faço essa comparação.

Quando ouço as mensagens do dia da Ceia, sinto-me incomodada pelo desprezo que o Senhor tem recebido no momento do partir do pão e do vinho entre os irmãos. Na celebração de um casamento, o centro da mensagem são os noivos; na consagração de uma criança, o centro é a criança e os pais que receberão instruções a respeito do modo como devem educar a criança no caminho do Senhor; num batismo, o centro da mensagem é o novo nascimento, a nova vida que a pessoa adquire por intermédio do batismo, da semelhança na morte e ressurreição de Jesus. Nas consagrações de nossos obreiros, nas distribuições de cargo igualmente. Agora eu pergunto: "Por que, pois, numa reunião em que a Ceia do Senhor é posta na Mesa, Jesus é a última pessoa a ser lembrada ou mesmo mencionada nas mensagens?". Eu vejo nisso um descaso tão grande, e o cumprimento dos versículos 29 e 30 de I Co 11: "Porque o que come e bebe indignamente come e bebe pra sua própria condenação, não discernindo o corpo do Senhor. Por causa disso, há entre vós muitos fracos e muitos que dormem".

A consequência desse desprezo é dada no próprio versículo: Por que somos condenados? Por que não discernimos o corpo do Senhor? Por que há fracos e doentes no Corpo? Por que há muitos que dormem? Acredito, e com temor afirmo isso, que é simplesmente pelo desprezo com que a Mesa do Senhor tem sido tratada no nosso meio. Jesus tem perdido a centralidade em nossos cultos há muito tempo, mas agora, na Santa Ceia, no momento em que Ele deveria ser lembrado, anunciado, demonstrado, temos tratado o Senhor com verdadeiro desprezo. Que o Senhor venha tratar isso em nosso coração, em nosso meio, a fim de que também nós não venhamos a dormir no corpo, porque é uma verdadeira tragédia passar a vida pensando que estamos servindo o Senhor e na verdade estamos dormindo. 

Naquela noite em que Jesus se reuniu com seus discípulos, dá pra sentir o peso das palavras de despedida que o Senhor proferiu: Lc 22:15 "E disse-lhes: Desejei muito comer convosco esta Páscoa, antes que padeça". Ele já tivera outras páscoas com seus discípulos, mas aquela precedia o momento da sua morte. A Páscoa fala disso. Jesus é o Cordeiro oferecido em holocausto para a preservação dos primogênitos dos filhos de Israel. Dali a algumas horas Jesus seria entregue aos malfeitores. Ele sabia disso e desejou estar com os discípulos para instruí-los antes que tudo acontecesse para que acreditassem em suas palavras.

No Evangelho de João está escrito no capítulo 6:48 "Eu Sou o Pão da Vida". Acredito que o pão talvez seja o que há de mais acessível economicamente falando. No deserto caiu o Maná. Todos os que comeram o Maná também morreram. Mas Jesus disse que se comermos a sua carne e bebermos o seu sangue viveremos para sempre. Essa é uma maravilhosa promessa (49-51). Ela se cumpre em nós no nosso caminhar diário com o Senhor. Todos os dias fazia Deus cair o Maná dos céus. A porção que os israelitas deveriam pegar era diária, o suficiente para a família durante aquele dia. Apenas para o sábado a provisão deveria ser dobrada. Deus não deixou faltar para eles o pão, nem a água. Jesus deve ser o nosso pão diário. O nosso Maná. O Verdadeiro Pão Vivo que desceu do céu.

Porque temos que participar da Ceia? Porque sem nos alimentarmos da carne e do sangue de Jesus morreremos: "Assim como o Pai, que vive, me enviou, e eu vivo pelo Pai, assim quem de mim se alimenta também viverá por mim. Este é o Pão que desceu do céu; não é o caso de vossos pais [dos judeus a quem Jesus falava] que comeram o maná e morreram; quem comer este Pão [Ele próprio, Jesus] viverá para sempre". Logo, ao participarmos do corpo e do sangue de Jesus recebemos vida eterna. Do mesmo modo que os primogênitos dos israelitas foram poupados na visitação do anjo da morte no Egito, nós que trazemos a marca do sangue do Cordeiro também seremos poupados. E é essa marca que o mundo precisa ver para crer que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus. Que necessitamos do seu sacrifício para vivermos eternamente. E que apenas ter uma religião não basta. Há muitas igrejas, mas nem todas são o Corpo de Cristo. Há muitos que pregam, mas nem todos falam a Verdade. Há muitas mensagens, mas nem todas foram deixadas por Jesus. Há muitos que se autodenominam apóstolos, mas nunca conheceram o verdadeiro Jesus. O Pão que desceu do céu, isto é, Jesus, o Filho Amado de Deus, Ele é a Verdade e a Vida. Nosso retorno a Deus depende única e exclusivamente dEle. (Jo 14;6).

Deus abençoe sua vida.