Verdades espirituais no Evangelho de João: continuação da introdução.
A Graça e a paz de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo seja com todos nós.
Na primeira parte introdutória mencionamos apenas os versículos 1 e 2 do Evangelho de João. Hoje, se o Senhor nos permitir, gostaria de avançar um pouco mais. Que o Espírito Santo nos abra a Palavra de Deus.
1.3. Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez.
O escritor aos Hebreus faz uma breve explanação sobre essa afirmação: "A quem [o Filho] constituiu herdeiro de tudo, por quem fez também o mundo. O qual, sendo o resplendor da sua glória, e a expressa imagem de sua pessoa, e sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, havendo feito por si mesmo a purificação dos nossos pecados, assentou-se à destra da majestade nas alturas... E tu, Senhor, no princípio fundaste a terra; e os céus são obras de tuas mãos". Hb 1.2-3; 10. E ainda Paulo, aos Romanos 11.36: "Porque dele e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois a ele eternamente. Amém".
Tudo o que existe, as coisas visíveis e as invisíveis, foi feito de Jesus, isto é, ele é a origem de tudo e de quem tudo foi feito; como está escrito "Ele é o princípio da criação de Deus" (Ap 3.14b), por intermédio de Jesus e para Jesus, o Filho Amado e Eterno de Deus. E não apenas isso. Ele sustenta todas as coisas pela palavra do seu poder. Esse sustentar /'Phero'/ fala de preservar, guardar para que não caia. Todo o universo é sustentado pela palavra do seu poder, /'Dynameos'/ de /'Dunamis'/ um vocábulo que fala de poder, força, habilidade. Poder inerente, poder que reside numa coisa pela virtude de sua natureza, ou que uma pessoa ou coisa mostra e desenvolve; poder para realizar milagres; poder moral e excelência da alma; poder e influência própria dos ricos e afortunados; poder e riquezas que crescem pelos números; poder que consiste em ou baseia-se em exércitos, forças, multidões.
Esse poder é dele por sua natureza divina. Jesus é o Filho de Deus. Ele e o Pai são um. Ele é o Criador e Sustentador de todas as coisas. Ele também é a razão da existência de todas as coisas, pois, sem ele, nada do que foi feito se fez: "Porque nele foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades. Tudo foi criado por ele e para ele. E ele é antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem por ele". Cl 1.16,17. Cristo, o Filho de Deus é o herdeiro de todas as coisas, nós, como filhos de Deus somos co-herdeiros com Ele (Rm 8.17; Gl 4.7). Sobre a questão da filiação, tornaremos a mencionar no versículo 12 de João 1.
A bíblia diz que todas as coisas tornarão a convergir em Cristo (Ef 1.10). Isso significa que, em algum momento da eternidade, todas as coisas estavam na mais perfeita ordem. Até que tudo se torna um caos. Por isso que em Gn 1.2 diz que a terra "se tornou sem forma e vazia". Esse é o sentido do verbo hebraico /'hayah'/. Como e por que ela se tornou sem forma e vazia? Mas está escrito que Deus, o Pai, o constituiu herdeiro de todas as coisas. Então, tudo o que se tornou um caos será novamente colocado debaixo de seu governo. Cristo é a razão de existência de todas as coisas. Como está escrito: é para ele.
Verdade espiritual de João 1.3. O Filho tem o mesmo poder do Pai, pois participa da mesma natureza.
1.4. Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens.
Recapitulando: No versículo 1, Jesus é o Verbo de Deus em quem podemos ver toda a glória do Eterno Deus. Jesus, por intermédio da Palavra, da mensagem da vida, nos fez conhecer o Pai; Ele nos revelou o Pai; no versículo 2, Jesus é eterno assim como o Pai, não tem princípio (quando falamos em princípio, queremos dizer que Jesus em sua eternidade "É", assim como o Pai. Somente em sua natureza humana, desde o seu nascimento, até ao dia de sua morte física, é que podemos contar os seus dias) e nem fim; no versículo 3, Jesus tem o mesmo poder que o Pai e no versículo 4, Jesus é a vida e a luz dos homens.
O vocábulo usado para vida nesse contexto é /'zoe'/ que fala da absoluta plenitude da vida, tanto em essência como eticamente, que pertence a Deus e, por meio dele, ao "logos" hipostático (substância, realidade permanente, concreta e fundamental) e a Cristo, em quem o "logos" assumiu a natureza humana. Vida provém do verbo "viver", /'zao'/ - usado para descrever também o ato de respirar, estar entre os vivos. É o contrário do que está morto e do inanimado. A bíblia nos apresenta o único Deus Vivo. Não feito por mãos. Não criado pela mente humana, como foi sugerido por Sigmund Freud, mas ele próprio é o Criador de todas as coisas. Só podemos ter a certeza, a convicção dessa verdade, quando ele se revela a nós. Foi por isso que Deus se manifestou em carne, se dando a conhecer. Só há um Deus Vivo. Essa é a verdade que ele nos revela.
Quando Jesus disse:"Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida. Ninguém vem ao Pai senão por mim" (Jo 15.6) é usado o mesmo vocábulo para vida, que é /'zoe'/. Nessa afirmação, ao dizer que é a Vida, Jesus descreve mais do que um percurso marcado pelo nascimento, desenvolvimento e morte de um ser vivo. Ele fala de uma vida que provém dele mesmo e que é para a eternidade. Ele também disse: "Ninguém vem ao Pai" e não "ninguém vai ao Pai". Porque o Pai está no Filho, e o Filho está no Pai. Na oração de Jesus, registrada em João 17, Ele nos fala dessa unidade entre o Pai e ele mesmo, e entre o Pai, o filho e nós. E entre nós uns com os outros. Jesus é o caminho. Isso significa que ele é o nosso curso [como de um rio - uma única direção] de conduta. Ele é [ou pelo menos deveria ser] o nosso modo de pensar, de agir, de decidir. Ele é a verdade em qualquer assunto considerado. É o único meio de o homem conhecer a Deus e ver a sua face. Ele é a vida.
Jesus fala a João sobre os últimos dias, na carta enviada ao anjo que estava em Éfeso (Ap 2.1-7), e Jesus diz que ao vencedor, ele dará a comer o fruto da árvore da vida que está no meio do paraíso de Deus (v.7). Essa árvore é /'xilou tes zoes'/ árvore da vida. O vocábulo /'xilou'/ não significa propriamente uma "árvore", embora o termo também possa ser usado como tal, mas também indica a madeira usada na fabricação de alguma coisa, como uma viga da forca ou da cruz. Essa vida que provém da cruz é o próprio Filho do Deus Altíssimo e Bendito.
João disse: "E sabemos que já o Filho de Deus é vindo e nos deu entendimento para conhecermos o que é verdadeiro, e no que é verdadeiro estamos, isto é, em seu Filho Jesus Cristo. Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna" (1 Jo 5.20). Tanto João, o discípulo amado, quanto João, o Batista, testemunharam a respeito da Vida Eterna.
Durante seu ministério terreno, Jesus procurou mostrar por meio de palavras e de milagres que ele proveio de Deus, a fim de cumprir a vontade de Deus. Em todo o testemunho que dava acerca de sua vinda como homem, Jesus deixava claro que o fazia porque essa era a vontade do Pai. E Jesus não tinha outra comida ou bebida senão fazer a vontade do Pai. E ele insistentemente falava isso, a fim de que, aqueles que o ouvissem pudessem crer que ele dizia a verdade sobre ser o Filho de Deus: "Mas eu tenho maior testemunho do que o de João; porque as obras que o Pai me deu para realizar, as mesmas obras que eu faço, testificam de mim, que o Pai me enviou. E o Pai, que me enviou, ele mesmo testificou de mim: vós nunca ouvistes a sua voz, e nem vistes o seu parecer. E a sua palavra não permanece em vós, porque naquele que ele enviou não credes vós. Examinais [buscar, pesquisar diligentemente] as Escrituras; porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam. [Contudo] E não quereis vir a mim para terdes vida". Jo 5.36-40.
Aquele que não crê em Jesus, não crê no Pai que deu testemunho sobre a sua vinda, e por essa razão, as palavras que Jesus ensinou não permanecem no incrédulo. Jesus testificava do Pai falando a respeito da verdade; as obras que ele realizava testificavam que o Pai o enviou, e o próprio Pai dava testemunho acerca de seu Filho Amado. O Espírito Santo também deu testemunho de Jesus quando pousou sobre ele em forma corpórea de pomba. De acordo com João, o Pai, a Palavra [Logos] e o Espírito Santo testificam no Céu acerca de Jesus. Igualmente, três testificam na terra: o Espírito, e a água e o sangue. 1 Jo 5.5-11. E qual é o testemunho? "E o testemunho é este: que Deus nos deu a vida eterna, e esta vida está em seu Filho". Jesus é o Filho de Deus.
A nós resta apenas crer nas palavras que ele falou e nos milagres que ele realizou. Tudo o que foi escrito e chegou até nós serve como testemunho da verdade. A bíblia é o Logos de Deus escrito. E as palavras de Jesus são Espírito [pneuma] e vida [zoe] para aqueles que as ouvem e as praticam: "O Espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos digo são espírito e vida". (Jo 6.63). O que está na bíblia não são meras palavras, ou regras de conduta, ou histórias. Mas é o Logos de Deus que é Espírito e é vida.
A encarnação de Jesus não trouxe apenas a oportunidade ao homem de ter vida eterna, mas também de conhecer o caminho por meio de sua luz, porque Jesus é a luz dos homens. Ele iluminava a todos os que estavam a sua volta.
"Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens". Jesus é o Deus verdadeiro que veio ao mundo. Ele é o verbo de Deus [Logos] e a Vida [Zoe]. Jo 1.4.
O Salmista diz: "Lâmpada [ner - candeia] para os meus pés é a tua palavra [/"dabar'/ - /'Logos'/ e /'Rhema'/] e luz [o-wr] para o meu caminho". Essa luz /'o-wr'/ pode significar a luz do dia, a luminosidade das luminárias celestes, a luz da vida, da prosperidade, da instrução. Figurativamente, a luz da face e Deus como a luz de Israel. Em Gênesis 1.3 Deus disse: "/'o-wr ye-hi e-lo-him way-yo-mer o-wr way-hi": "E disse Deus: Haja luz, e houve luz". É o mesmo vocábulo ó-wr utilizado pelo salmista nos Salmos 119.105.
Nesse sentido, Jesus é quem nos guia nele mesmo em direção a ele mesmo."E esta é a mensagem que dele ouvimos, e vos anunciamos: que Deus é luz, e não há nele trevas nenhumas".
Assim como a Vida está em oposição à Morte, a Luz está em oposição às Trevas. 1 Jo 1.5. A luz pode significar a luz do dia, em oposição à noite em que há trevas, escuridão. Jesus disse: "Convém que eu faça as obras daquele que me enviou, enquanto é dia; a noite vem, quando ninguém pode trabalhar. Enquanto estou no mundo, sou a luz do mundo". (Jo 9.4,5). Jesus seria tirado dentre os viventes, porque sua morte se aproximava. Mas a morte não tem o poder sobre a vida de Jesus, porque nele não havia pecado algum (1 Pe 2.22). Então a vida não foi absorvida pela morte. Aquele que tem o Filho de Deus também não morrerá: "Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá; e todo aquele que vive, e crê em mim, ainda que esteja morto, viverá".
Espiritualmente falando, aquele que não anda na luz de Deus, e de Seu Filho Amado Jesus Cristo, não sabe para onde vai, mas aquele que está em Cristo tem a vida eterna e anda na sua luz. Quando comentarmos o capítulo 3 veremos que todo aquele que pratica a verdade vem para a luz e que, ao contrário, aquele que faz o mal odeia a luz. Também veremos nossa condição de mortos e dominados pelas trevas. Basta nesse versículo 4 mencionarmos a respeito de Jesus.
Verdade espiritual de Jo 1.4: Jesus é o único que pode nos dar vida e servir para nós como o modelo de conduta diante do Pai.
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