Superando os conflitos no lar

Lição de n. 10 da EBD ed. Betel. 


Nessa lição gostaria de trabalhar de modo mais aprofundado com duas palavras contidas no título: superando e conflitos. Quando se fala em superação tem-se em mente a ideia de obstáculos, ou seja, de algo que tenta nos impedir de prosseguir. Mas, prosseguir pra onde? 

Entendendo o homem como algo inacabado, em constante processo de formação e de crescimento, há que se ter em mente também que ele não está só no mundo. Ele é com o outro no mundo. Ele é um ser social, um conjunto das relações sociais. Não tem como parar o mundo, deixar aquela pessoa em conflito sozinha, isolada, resolver aquele problema e então retornar para o dia a dia da nossa existência, ao lado dela. Não funciona assim, até porque nós crescemos mediante os conflitos nas nossas relações interpessoais. E todos enfrentamos algum tipo de conflito o tempo todo. Aí então entramos na segunda questão que acredito ser pertinente para se compreender os objetivos da lição: Como surgem os conflitos

Segundo a Palavra de Deus, a Bíblia, o homem é um ser tricotômico: possui espírito, alma e corpo. O termo grego para a definição de alma é psuque>sede das afeições, vontade, desejo, emoções, mente, razão e compreensão. Embora muitos estudiosos acreditem que não há como separar o espírito da alma e do corpo [com toda razão], porque na mente humana, só o que é visível é mais facilmente perceptível e fácil de descrever. Não discordo, entretanto, gostaria que você me acompanhasse no seguinte raciocínio: o corpo é onde estão depositados o espírito e a alma. Ele se corrompe, envelhece, adoece, sofre danos causados por coisas externas, tais como fogo, objetos cortantes ou perfuradores, animais, insetos, etc. Por meio dele nos relacionamos, através dos sentidos, com o meio em que vivemos. A sua restauração ocorrerá somente no arrebatamento. A alma é o nosso eu interior. Nela sentimos amor, ódio, raiva, contentamento, alegria, rancor, amargura, sentimos afeição pelas pessoas, animais e coisas; manifestamos nossa vontade, nossos desejos, nossos pensamentos, enfim. Ela é diferente do corpo. Minha mão não se magoa com ninguém. Mas ela pode ser queimada no fogo. Entende? A restauração de nossa alma, isto é, de todo o acúmulo de sentimentos durante toda nossa existência, de tudo aquilo que diz respeito ao que foi falado ou ao que está implícito em relação à alma, acontece quando aceitamos o Senhor Jesus como nosso único e suficiente Salvador. É um processo diário. Não como a restauração do corpo que ocorrerá num abrir e fechar de olhos. O Senhor, diariamente, trabalha na restauração da nossa alma [nosso homem interior] a fim de que nossos relacionamentos interpessoais sejam em amor

Por que o Senhor não restaura nossa alma instantaneamente? Como já mencionei, somos seres em crescimento, em formação. E crescer é um processo. Leva tempo. O corpo sofre transformações ao longo dos anos. Nossa alma também. Nossos relacionamentos também. Somos seres incompletos e imperfeitos. Às vezes rebeldes. Às vezes egoístas. Mas quando nos colocamos nas mãos do nosso Criador, que nos entende e nos conhece por dentro e por fora (Sl 139), Ele não nos livra de nossos sofrimentos causados pelos conflitos internos e externos, mas como um bom Mestre, nos ajuda a entendê-los e a superá-los, o que nos tornará mais fortes, mais maduros, mais aptos para amar o próximo.

Se eu sou imperfeita, me uno em casamento com outro ser imperfeito, o resultado serão diversos conflitos, por causa da nossa incompletude. Às vezes pensamos no outro como um entrave na nossa vida ou no nosso avanço profissional. Mas ele pode ser um instrumento de Deus para aperfeiçoar-nos. Para nos fazer crescer. E não importa com quem estamos. Haverá conflitos de diferentes ordens, mas eles nunca deixarão de existir enquanto vivermos nesse tabernáculo.

Vejamos o que o comentarista da lição diz nos tópicos:

1. Não existe casamento perfeito: Há uma relação lógica nessa afirmação. Se somos imperfeitos, nossos relacionamentos também serão. Onde houver duas ou mais pessoas, haverão também conflitos devido a diversos fatores. Mas para superá-los temos que ter em mente que:

1.1 O diálogo é vital: em outro momento, em outra lição também comentada neste blog, "cultivando o diálogo, a renúncia e a tolerância", foi falado a respeito do diálogo no casamento. Devemos falar a respeito de nossas angústias, de nossos anseios, nossos sonhos, nossas esperanças. Nosso cônjuge precisa saber dos conflitos no nosso interior para poder nos ajudar. E vice-versa. É difícil porque não queremos admitir nossas faltas. Temos que ser bons falantes, mas também temos que ser bons ouvintes. Deixando nosso cônjuge falar abertamente de tudo o que o aflige também. Assim como está escrito: "Lançando sobre ele [Jesus] toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós" I Pe 5:7. Oremos ao Senhor e depois falemos ao nosso cônjuge.

1.2 É preciso superar os conflitos: Tiago faz a seguinte pergunta: "De onde vêm as guerras e pelejas entre vós? Porventura não vem disto, a saber, de vossos deleites, que nos vossos membros guerreiam?" Tg 4:1. Em primeiro lugar tenho que entender os conflitos internos, para depois entender os conflitos do meu casamento. Isso porque, quando não estou bem comigo mesma, não posso ficar bem com ninguém. Se estou em conflito é porque alguma coisa não vai bem e precisa ser refletida e superada antes que nosso casamento fique seriamente comprometido com isso. De que forma supero meus conflitos internos? Primeiramente aceitando que eles existem. Segundo pedindo ajuda ao Senhor que nos ajudará. Terceiro, pedindo ajuda ao companheiro. Posso também pedir ajuda ao meu pastor ou pastora, desde que ele ou ela seja uma pessoa íntegra e ética, que vai me aconselhar segundo a Palavra de Deus nos ensina e não vai comentar com outras pessoas as minhas dificuldades. Superando os conflitos internos, os outros ficarão amenizados. Porque boa parte dos conflitos nos relacionamentos é ampliada quando eu não estou bem comigo mesma.

1.3 É preciso se esforçar para ter harmonia: quando se fala em harmonia pensamos logo em música. Uma orquestra que está em harmonia o som sai perfeito. Mas se um instrumento estiver desafinado, ou tocando numa altura diferente dos demais, por maior que seja a quantidade de instrumentos, o maestro vai notar a falta de harmonia. Nos relacionamentos também é assim. Precisamos estar em harmonia com os objetivos matrimoniais a fim de poder continuarmos juntos. Abaixando ou elevando o 'tom' da paciência, da bondade, do amor, da ética, enfim.

2. É preciso aceitar os limites do cônjuge: nós somos limitados por natureza. Não podemos realizar qualquer coisa e, às vezes, enfrentamos dificuldades para superar nossos limites. Se somos assim, então o nosso cônjuge também é. A mesma paciência com que nos exercitamos para superar os limites deve ser dispensada ao nosso cônjuge. Assim como nós, ele também está em formação, em processo de crescimento. Devemos ajudá-lo.

2.1 Elogie e reconheça o valor do cônjuge: quando nos iramos contra alguma coisa que nosso cônjuge faz, a primeira coisa que fazemos é desvalorizá-lo, é fazê-lo se sentir dispensável e substituível. Agora, pense comigo. O que seria de nós se o Senhor nos tratasse da mesma forma que tratamos nosso cônjuge? Por que elogiar? Desde que nos entendemos por gente, sabemos que buscamos reconhecimento em tudo o que fazemos. A ingratidão vem na contra-mão disso. Reconhecer e valorizar o nosso cônjuge é demonstrar que ele não é uma bijuteria. Mas uma joia preciosa que enriquece nossa vida juntos. Não deixe para valorizar depois que a morte chegar. Porque seria tarde demais para expressar qualquer tipo de sentimento.

2.2 Aprecie a qualidade do relacionamento: há um ditado que diz que casamento é como uma gaiola: quem está fora quer entrar, e quem está dentro quer sair. Não é bem assim. Até porque, a maioria dos divórcios não acontece para ficarmos sozinhos, mas para tentar outro relacionamento. Quando perdemos o interesse no outro, automaticamente, não queremos e não buscamos fazer nada para melhorar nosso casamento. O resultado é abrir mão. Biblicamente o divórcio é errado. Mesmo se houver adultério, um coração que reconhece que foi muito perdoado, perdoará o cônjuge. A base de nosso perdão é o perdão que recebemos de Cristo. A base de nosso amor é o amor que recebemos de Cristo. Paulo compara a união de Cristo com a Igreja com o matrimônio. Imagina se Cristo nos abandonasse por qualquer coisa. Ele é o nosso modelo. Adão e Eva, Deus e Israel, Cristo e a Igreja, marido e mulher. Relacionamentos que não podemos considerar falidos. Você considera?

2.3 O que mantém o casamento não é a capacidade de subjugar o cônjuge: o sentido de subjugar é dominar, reprimir. Em primeiro lugar, o que é um casamento? Uma prisão? Um local de domínio e de guerra? Isso não deve existir entre casais. É inconcebível que aconteça em lares cristãos. A relação entre casal não está em pé de guerra para que um seja subjugado pelo outro. Cristo ama sua igreja. Segundo Paulo, esse é o amor que o marido deve dispensar à esposa. Amar a esposo do mesmo modo que Cristo amou a Igreja e a si mesmo se entregou por ela. A Igreja deve submissão a Cristo como o cabeça dela. A esposa se submeter ao marido quando este a ama não é difícil. Até porque o sentido de submissão é entender que o papel da esposa, assim como da igreja, é honrar. Por mais que as feministas de plantão queiram reivindicar um papel diferente daquele que nos foi ensinado na Bíblia, nós não temos tal costume, ser contenciosos. A humildade vem adiante da sabedoria. Tanto homens quanto mulheres desempenham papéis diferentes no casamento. Cada qual tem seu lugar, como os membros no corpo. Mas o cabeça dos dois é Cristo. O marido nunca, jamais está acima de Cristo na relação.

3. Os problemas não podem se avolumar: Deixar qualquer coisa se acumular é problema difícil de se resolver. Vejamos. Pensemos no casamento como uma casa. Tudo organizado e no lugar. Mas os móveis estão cheios de poeira. Vale a pena organizar a casa e não usar um espanador ou mesmo um pano para retirar o pó? Que dirá do mofo? E das pequenas coisas que começam a se entulhar sobre os móveis, pelo chão, pela casa toda. Essa 'arrumação' deve começar no nosso interior. Devemos acender a luz do bom senso e começar a tirar o pó da ignorância e a organizar o que está fora do lugar para, então, varrer e limpar a casa. 

3.1 Personalidade versus individualidade: fiz alguns comentários sobre personalidade em um estudo sobre a 'Parábola do Semeador' que você poderá conferir para somar conhecimento e enriquecer a lição. Nós temos nossa personalidade, mas temos que entender que, num casamento, não sou mais apenas 'eu', há também 'o outro' e por isso a individualidade deve ser abandonada em prol do nosso papel desempenhado no casamento, a fim de não ferir nosso cônjuge, nem a nós mesmos. Entendendo a individualidade aqui como a ação de um ser único e indivisível. Somos indivíduos. Não individualistas. Respeitar as ideias, as opiniões, as posições idealistas e histórico-culturais do cônjuge vai nos ajudar a caminharmos juntos. Eu não sou detentora da verdade. Aquilo que acredito não pode ser imposto sobre aquilo que meu cônjuge acredita.

3.2 Equilíbrio versus confronto: pra mim aqui reina outra vez o conceito de respeito. Se formos pro embate todas as vezes que nossas posições forem divergentes, com certeza estaremos sempre em pé de guerra. Paulo em sua carta a Tito diz várias vezes: sede sóbrios. Sobriedade em todos os aspectos fala de equilíbrio. Isso não nos torna pessoas fáceis de serem subjugadas, aliás, ter equilíbrio nos torna fortes e estáveis para refletir sobre qualquer assunto antes de partirmos pro confronto. Temos que confrontar as ideias, não as pessoas. Respeitar e sermos respeitados. 

3.3 Beleza física versus beleza interior: eu acho que esse tópico ficou meio deslocado no contexto. Porque há uma hierarquia de valores e a beleza não está entre os mais importantes no casamento. Se a beleza fosse segurança de casamento perfeito, a princesa Diana não seria abandonada pelo Príncipe Charles, porque ela é infinitamente mais bela do que a Camilla. E tantas outras mulheres lindas, mas infelizes no casamento. A beleza física tanto do homem quanto da mulher está num conjunto de caracteres identificados pelo cérebro de quem está apaixonado. Não é o que vemos em si. Mas o que percebemos no conjunto. E quando as características vão ficando 'embotadas' pelo dia a dia, pelos defeitos, enfim, a beleza vai diminuindo. O que temos que fazer? Reacender a chama. Reconquistar. Maximizar as qualidades. Consertar.

O casamento é uma aliança entre dois seres imperfeitos e incompletos. Duas pessoas em processo de formação. A mesma atitude que esperamos do nosso cônjuge, devemos dispensar nós mesmos no nosso relacionamento. Isso é o que Deus espera de nós.

Deus abençoe sua vida.     



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Rute e Noemi, uma das mais belas histórias de amizade e companheirismo na Bíblia, um relato da vida de duas mulheres de nações diversas, cujos laços familiares se estreitaram pela dor – Parte I

As três atitudes do crente - breve leitura do livro de Watchman Nee

Palavra de reflexão para novos convertidos ou para quem se encontra desanimado.