As três atitudes do crente - breve leitura do livro de Watchman Nee

Iniciando em seu prefácio com a afirmação: “Este livro contém mensagens que expressam a triunfante certeza e confiança na obra consumada de Cristo, e o sentimento humilde dos cristãos a respeito das elevadas qualidades que o Senhor exige de seus servos”, o livro toca o nosso coração pela simplicidade característica dos servos que alcançaram a benignidade de Deus no conhecimento de Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador. Uma leitura digna para todo aquele que deseja conhecer e se aproximar mais das verdades contidas na Bíblia, as Sagradas Escrituras. Em apenas três capítulos, Nee discorre sobre toda a carta de Paulo aos Efésios, dividindo-a em duas seções: doutrinária e prática, expressando em cada parte as três atitudes do crente em relação à sua vida cristã: Assentar - na qual Nee discorre sobre a posição do crente em Cristo – nas regiões celestes, Andeis – mencionando sobre a vida do crente neste mundo e Firmes – falando sobre a atitude do crente diante do inimigo.

Sobre esta maravilhosa epístola, Nee faz a seguinte assertiva: “Dentre todas as cartas de Paulo, Efésios é aquela em que encontramos as mais elevadas verdades espirituais a respeito da vida cristã”. Ao mesmo tempo em que apresenta tais verdades elevadas que ele chama de ‘gemas espirituais’, Efésios é também uma carta que nos ensina a praticar essas verdades.

Watchman Nee inicia o primeiro capítulo com breve referência ao capítulo 1, e sobre o capítulo 2:6 ele diz que essa passagem revela o segredo de uma vida celestial. Mais ainda, “a vida cristã não começa com o andar, começa com o assentar”. Esse é o primeiro capítulo do livro: Assentar.
Após a purificação de nossos pecados, Jesus assentou-se à destra da Majestade nas alturas (Hb 1:3). Se nós iniciamos nossa vida em Cristo, também enxergamo-nos assentados com ele nas regiões celestes, porque Deus nos abençoou em Cristo com todas as bênçãos espirituais (Ef 1:3). Mas o que significa assentar? Significa deixar nosso peso total – a nossa pessoa, nosso futuro, nossas aflições, tudo – sobre o Senhor. Isso significa que o trabalho inicial é do Senhor e não nosso. Deus já havia providenciado tudo e só nos convida para o banquete (Lc 14:17). E, segundo as riquezas de sua graça, nos deu tudo no Amado (1:6-7).

Nosso irmão em Cristo continua nas páginas seguintes falando a respeito desse assentar-se, desse descansar em Deus. Para isso, ele cita alguns versículos contidos em outras cartas paulinas, nas quais, verdades como ‘mortos para o pecado’, ‘batizados na sua morte’, ‘sepultados com ele’, ‘ressuscitados juntamente com ele’, são todas proferidas no tempo passado, porque a obra já foi realizada. E nós só recebemos, pela fé, dele. Entendendo, então, com Cristo fomos crucificados, mortos, ressurretos e assentados nas regiões celestiais. Isso significa que nossa libertação do pecado, do poder deste sobre nós, se baseia no que Deus já fez por nós. Esse é o segredo da vida santificada.


Após essas observações, Nee discorre sobre a parábola do ‘filho pródigo’ e diz que Jesus nos revela que de modo supremo, na esfera da redenção, o que alegra o coração do Pai é alegrar-se e poder gastar mais pelo retorno do filho perdido. A alegria do Pai era poder usar no filho a melhor túnica, o melhor anel, as sandálias e homenageá-lo com um banquete. Quando tentamos fazer algo para nos tornar aceitáveis ao Senhor, colocamo-nos de volta debaixo da lei, e nossos esforços não passam de obras mortas, abomináveis diante de Deus, porque não são eficazes. Quando descansamos, iniciamos nossa vida com Deus. E finaliza com Efésios 2:4,6.

Capítulo 2. Andeis
Nesse capítulo, Watchman Nee diz que "o andar em Cristo representa nossa posição divina aqui na terra". Em outras palavras, o cidadão do céu exibe um selo de sua habitação celestial em sua própria conduta terrena. Porque só faz sentido falar muito de um céu distante se trouxermos o céu ao nosso lar, ao nosso local de trabalho, em nossos relacionamentos interpessoais. Rogo-vos que andeis de modo digno, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor. Sede uns para com os outros benignos, perdoais uns aos outros. Todas essas coisas são de fato objetivas e nos mostram um andar na presença do Senhor.

Mas, desde a queda, a questão sobre o que é certo e o que é errado tem pautado o viver do homem, isso o fez produzir seu próprio conceito de justiça ou injustiça, bem e mal. Mas para nós cristãos, o ponto de partida é diferente. A árvore da vida do Jardim do Éden para nós é Cristo. Por isso não partimos da questão do que é certo ou errado, mas iniciamos com Ele, com a própria Vida. "Nada tem produzido maiores danos ao nosso testemunho cristão do que nossa tentativa de sermos corretos e exigir correção dos outros". Para Deus a questão é de graça, não do que é certo ou errado. Ele nos tratou com injustiça? Paulo responde na cara aos Efésios 4:32: "Perdoando-vos uns aos outros, como também Deus vos perdoou em Cristo". Agora, nossa vida deve ser governada pelo princípio da cruz e da perfeição, santidade do Pai. Como filhos, nossa responsabilidade se manifesta na afinidade de espírito e atitude com nosso Pai. Por isso se diz: "Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos amados e andai em amor, como também Cristo vos amou e se entregou a si mesmo por nós". (Ef 5:12).

Mas qual o segredo que move a vida cristã? De onde vem o poder que em nós opera? Vem da posição que Deus nos deu em Cristo. O segredo do poder de Deus aperfeiçoado em nós está em sermos fracos, dependentes dele. Paulo orou e disse que seu desejo é que "Cristo habite pela fé em nossos corações". (Ef 3:17). Deus nos deu seu Filho, agora o que temos que fazer é deixar que Ele viva em nós, ame através de nós, opere através de nós e em nós. "Nós somos fortalecidos com poder pelo seu Espírito no homem interior... [para] conhecer o amor de Cristo". (Ef 3:16,19). O próprio Cristo se revela a nós como resposta a todas as exigências de Deus. Lembrando que Cristo disse: "Sem mim, nada podeis fazer". E é verdade, não precisamos nos esforçarmos demais, precisamos confiar nele, precisamos dele, de Cristo em nós. O que temos que fazer é confiar. Se precisamos de conhecimento do Senhor, não precisamos buscar na árvore do conhecimento. Nós temos Cristo, o qual foi feito em nós sabedoria de Deus. A lei do Espírito de vida em Cristo Jesus comunica a nós continuamente os padrões do Senhor quanto ao que é certo e o que é errado e também o modo como enfrentar as situações difíceis.

Para isso, precisamos aprender o princípio da cruz, pois nosso padrão deixou de ser o velho homem e tornou-se o novo homem. "Quanto ao trato passado, vos despojeis do velho homem, que se corrompe pelas concupiscências do engano; e vos renoveis no espírito do vosso entendimento; e vos revistais do novo homem, que segundo Deus é criado em verdadeira justiça e santidade". (Ef 4:22-24). Por essa razão, não busquemos apenas fazer o que é certo, mas o que agrada a Deus. Por isso Paulo diz: "Portanto, vede prudentemente como andais, não como néscios, mas como sábios, remindo o tempo, porque os dias são maus. Pelo que não sejais insensatos, mas entendei qual seja a vontade do Senhor". (Ef 5:15-17). Nessa passagem, Nee faz uma comparação com a parábola das 'dez virgens', fazendo um jogo de palavras: prudentemente, como sábios remindo o tempo... não sejais insensatos. Cinco prudentes, cinco insensatas, loucas. Qual a diferença entre elas? O azeite que tinham consigo. Devemos louvar o Senhor, porque "aquele que em nós começou a boa obra a aperfeiçoará até o dia de Cristo Jesus". (Fp 1:6). E essa obra é feita com antecedência. As virgens que traziam consigo suas lâmpadas acesas e óleo de reserva, fizeram isso antes de adormecerem. Muito antes de saírem ao encontro com o noivo. O azeite das néscias também mantinham suas lâmpadas acesas, mas não por tempo suficiente, e porque não providenciaram antes, não puderam entrar para as bodas. O noivo demorou. As néscias nem imaginaram essa possibilidade. Por isso não se prepararam com antecedência. Em II Coríntios 11:2 está escrito: "Tenho-vos preparado para vos apresentar como uma virgem para um marido, a saber, a Cristo".

Precisamos estar preparados para o serviço do Senhor, logo no início. As virgens néscias tinham o Espírito Santo, mas não estavam cheias do Espírito Santo. Por isso a Palavra nos convida, "não vos embriagueis com vinho em que há contendas, mas enchei-vos do Espírito". (Ef 5:18). No final, as virgens loucas conseguiram o azeite, mas perderam o propósito para o qual necessitavam. A questão toda gira em torno do tempo [remindo o tempo, sendo prudentes, antecipando-nos], esse é o ponto central do ensino do Senhor, no fim da parábola, quando Ele admoesta os discípulos a não serem meros discípulos, mas discípulos vigilantes. A questão é: temos azeite de reserva? Temos azeite extra? Devemos manter nossa luz até a chegada do Noivo. A expressão em Efésios 5:18 para 'enchei-vos' é pelrousthe que significa 'esteja sendo enchido', ou seja, sejais continuamente enchidos. Trata-se de uma condição que nos caracteriza o tempo todo. É algo interno essa condição. É a presença constante do Espírito Santo em nosso espírito que garante que a luz de nossa lâmpada jamais se apagará, mas brilhará com força até após a meia-noite, até a aurora, se necessário. Quem é prudente vai buscar essa plenitude o mais rápido possível. Assim como Paulo que disse: "Prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus". (Fp 3:14).


Capítulo 3: Firmes - Essa deve ser a resistência do crente diante do inimigo, firmes, contra as astutas ciladas do diabo. Mas, sem estar devidamente assentados em Cristo, sem ter uma vida prática e santa aqui na terra, mediante a operação do Espírito Santo em nós, o crente jamais conhecerá a realidade dessa luta contra o maligno. O cristão só percebe 'carne e sangue', ou seja, um sistema mundial de reis e governos hostis, de pecadores e pessoas perversas armadas contra nós. Todavia, nossa luta é contra as astutas ciladas do diabo, contra as potestades, contra os poderes deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais da maldade nas regiões celestes. Satanás procura usurpar o poderio de Deus na terra. A Igreja é chamada para desalojar o diabo de seu reino, e tornar Cristo o supremo Senhor de todos. Os golpes satânicos são certeiros contra os Filhos de Deus, e o campo de batalha é a mente [alma] e o corpo. De que forma podemos entrar nessa guerra? "Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para que possais estar firmes contra as astutas ciladas do diabo". A ordem é ficar firmes. Por essa razão é que a maior parte da nossa armadura é de defesa, até mesmo a espada pode ser usada como arma de defesa, mas também de ataque. Em Cristo somos "mais do que vencedores" (Rm 8:37), pois Cristo já venceu o inimigo por nós. Ele morreu, mas ressuscitou. Tanto andar quanto guerrear dependem de permanecermos firmes na nossa posição em Cristo.

Segundo o irmão Nee, "talvez as dificuldades ao seu redor não se alterem; o leão poderá rugir com muito furor, como sempre; mas você não precisa ter esperança de vencer. Em Cristo Jesus você é o vencedor". Para isso, recebemos duas armas: a espada do Espírito e a oração. Devemos ter o conhecimento do nome de Jesus, e ainda conhecer a autoridade desse nome. Esse é um nome indicativo da humanidade de Cristo, investido de um título e de uma autoridade conferidos a Ele por Deus, o Pai, pela sua obediência até à morte (Fp 2:6-10). "Resume o resultado de seus sofrimentos, o nome de sua exaltação e glória; e hoje é nesse nome que é sobre todo o nome que nós nos reunimos e pelo qual rogamos ao Senhor Deus". O poder do nome de Jesus opera em três direções: 1) em nossa pregação: ele é eficaz na salvação das pessoas (At 4:10-12); pela remissão de nossos pecados, e pela purificação e justificação e santificação perante Deus (Lc 24:47; Atos 10:43; I Co 6:11); 2) Em nossa guerra espiritual, ele é poderoso contra os poderes satânicos, para amarrá-los e sujeitá-los (Mc 16:17; Lc 10:17-19; Atos 16:18); 3) em nossos pedidos, seu nome é eficaz diante de Deus, visto que duas vezes o Senhor nos disse: "E farei tudo o que pedirdes em meu nome..." e duas vezes "tudo o que em meu nome pedirdes...". (Jo 14:13,14; 15:16; 16:23). No nome de Jesus, os discípulos realizaram curas, expulsaram espíritos maus, ressuscitaram mortos. Jesus disse que o Filho, por si mesmo, não poderá fazer coisa alguma, e que nós não faremos nada sem Ele. precisamos sempre consultar a vontade de Deus, estar em consonância com ela para, só depois, fazermos algo. "O trabalho só deve ser iniciado a partir desse conhecimento".

Todos temos a necessidade fundamental de conhecer sobre a morte e a ressurreição de Cristo, no que se relaciona à natureza do crente. Precisamos experimentar aquele toque inicial da mão de Deus que nos aleija, nos enfraquece a força natural, de tal modo que nos firmamos apenas e unicamente na vida da ressurreição de Cristo, em cujo território a morte não entra. Na medida em que trazemos nossa força natural à influência da cruz de Cristo, são produzidos frutos em nossa vida e em nosso ministério, e provê a Deus um solo que Ele necessita para apoiar a obra que realizamos no nome de Seu Filho. Tudo o que fazemos sem a mão do Senhor é madeira, palha e feno, materiais de pouco valor e que o fogo provará e queimará. Mas se estamos executando o trabalho no poder de Deus, e esse poder só é encontrado no Senhor, e Ele está à nossa disposição na ressurreição, então a obra de Deus se inicia. Deste modo é que o fogo nos dias vindouros e a cruz hoje efetuam a mesma obra. "O que não suportar a cruz hoje, não suportará o fogo amanhã". A vida que vivemos hoje é a vida de Cristo, vivida no poder de Deus, e o trabalho executado por nós é o trabalho de Cristo desenvolvido por nosso intermédio, mediante seu Espírito, a quem obedecemos. O egoísmo é a única obstrução a essa vida e a esse trabalho. Quanto menos obtemos de satisfação pessoal de um trabalho para Deus, maior é o seu valor diante de Deus. Não há lugar para a glória do homem na obra de Deus. "É verdade que existe uma alegria profunda e preciosa em qualquer serviço que traz satisfação ao Senhor, o que abre a porta para a operação divina, mas a base dessa alegria é louvor e glória da sua graça" (Ef 1:6,12,14).

No final do livro, Watchman Nee conta um testemunho pessoal sobre estar firme, andar e posicionar-se em Cristo. Recomendo a leitura para todo o crente que deseja fazer diferença neste presente século.

Deus abençoe sua vida,



Comentários

  1. Li este anos atrás e foi ótima a reflexão.
    Me Edificou muito.
    Deus a abençoe

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