Novas "lições" extraídas da carta de Paulo aos Filipenses
Na postagem anterior nos detemos na parte a do capítulo 1.1, especificamente em dois vocábulos: servos e santos. Vimos que o servo do Senhor se sujeita a Ele em obediência, lealdade e devoção; e também que a santidade é operada em nós pelo Senhor. Nesta postagem vou me deter ainda no versículo 1 do capítulo 1 da epístola de Paulo aos Filipenses: "Paulo e Timóteo servos de Jesus Cristo a todos os santos em Cristo Jesus [...]".
O que significa estar em Cristo Jesus?
Somente quando estamos em Cristo Jesus é que Deus opera em nós a santificação e a "limpeza", mediante o uso da Palavra e, como consequência, nós podemos dar frutos de santificação, de justiça, do Espírito. Jesus disse: "Estai em mim, e eu em vós, como a vara de si mesma não pode dar fruto se não estiver na videira, assim também vós, se não estiverdes em mim". Jo 15.4. O servo de Jesus Cristo não frutificará se não estiver nele, que é a Videira Verdadeira, conforme lemos em João 15 a partir do versículo primeiro. O Pai é o Agricultor que limpa a Videira retirando dela toda vara que não frutifica e limpando toda a vara que frutifica, a fim de que dê mais fruto.
Vamos entender pelas palavras de Jesus o que é estar na Videira e como permanecer nela. Analisemos, pois, as condições:
Ilustração: Josineide
A palavra que Jesus pregou nos torna completamente limpos moralmente. O pecado afetou a totalidade do homem, atingindo corpo, alma e espírito. E em cada âmbito de nosso ser, o Senhor precisa tocar, limpar, transformar, santificar. Para entendermos o que significa estar em Cristo, precisamos analisar o contexto do ministério de Jesus, sua mensagem e obra entre o povo, a fim de, por suas palavras, compreendermos o significado espiritual da união entre Cristo e seus discípulos,conhecido como o princípio da unidade.
O início do ministério de Jesus, segundo narrado no Evangelho de Mateus, deu-se logo após a prisão de João, o Batista, e Jesus, voltando para a Galileia, deixa a cidade de Nazaré e vai habitar em Cafarnaum, cidade marítima, nos confins de Zebulom e de Naftali, conforme os capítulos 4.12 a seguir, do evangelho de Mateus, que repete uma profecia dita séculos anteriormente pelo profeta Isaías, que diz: "Mas a terra que foi angustiada, não será entenebrecida (isto é, coberta de trevas); envileceu nos primeiros tempos, a terra de Zebulom, e a terra de Naftali; mas nos últimos tempos a enobreceu junto ao caminho do mar, além do Jordão, na Galileia das nações. O povo que andava em trevas, viu uma grande luz, e sobre os que habitavam na região da sombra da morte resplandeceu a luz". Is 9.1,2.
Isso se cumpriu pelo nascimento do tão esperado Rei dos Judeus. O evangelho de João diz sobre Ele: "No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez. Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens. E a luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam".
Não apenas a região da Galileia das nações pôde experimentar a vida e a luz com a presença de Jesus habitando entre eles. Porque Jesus veio ao mundo e habitou entre nós e todos nós que andávamos na região da sombra da morte pudemos experimentar a vida e a luz que ele nos trouxe em si mesmo. Todos os evangelhos e apóstolos testificaram da Vida, da Palavra da Vida que foi manifesta por Deus a nós. Esse testificar tem um propósito: "para que também tenhais comunhão conosco; e a nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho Jesus Cristo". 1 Jo 1.4.
Esse contraste entre luz e sombras nos remete a dois momentos especialmente:
1. Da criação
Quando Deus criou os céus e a terra, havia trevas sobre a face do abismo. E disse Deus: "Haja luz". O vocábulo usado para trevas neste contexto é /choshek/ que significa escuridão, lugar secreto. E o vocábulo para luz é /owr/ que tanto pode significar a luz do dia, como dos luminares celestes (sol, lua, estrelas), raiar do dia, alvorada, aurora, relâmpago, luz de lamparina, luz da vida; da prosperidade, da instrução; luz da face (figurativo) e Jeová como a Luz de Israel. No momento da criação, o Senhor fez separação entre Luz e Trevas.
Na primeira epístola de João 1.5 diz que Deus é luz, o vocábulo usado nesse contexto é /phos/ de uma forma arcaica de /phao/ que significa brilhar ou tornar manifesto. Metaforicamente, quando João diz que Deus é Luz, e não há nele trevas nenhumas; o apóstolo está dizendo que a luz tem a qualidade de ser extremamente delicada, sutil, pura e brilhante. Também fala da verdade e seu conhecimento, junto com a pureza espiritual associada a ela. Aquilo que está exposto à vista de todos, abertamente e publicamente; razão e mente; também fala do poder do entendimento, especialmente, verdade moral e espiritual. Já o vocábulo para trevas nesse contexto de 1 João, é /skotia/ que fala da escuridão causada pela ausência da luz. Por metáfora, é usado para significar a ignorância das coisas divinas, e sua associada perversidade, e a miséria resultante no inferno.(STRONG).
Ao analisar o vocábulo /skotos/, que vem da raiz de /skia/ 'sombra'; Strong vai nos dizer que o seu significado está relacionado à ignorância a respeito das coisas divinas e dos deveres humanos, e da impiedade e imoralidade que a acompanha, junto às misérias consequentes no inferno. São as pessoas nas quais a escuridão se torna uma realidade que as governa. Essa não é outra senão a descrição de nossa geração.
Paulo diz em sua epístola aos Romanos: "Porque as coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno poder, como a sua divindade, se entendem e claramente se vêem pelas coisas que estão criadas, para que eles fiquem inescusáveis. Porquanto, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu [isto é, encheu-se de trevas]". Rm 1.20,21.
2. Da encarnação
Quando Jesus foi enviado ao mundo, no milagre da encarnação, "a luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam". Jo 1.5. Agora, Deus, mais uma vez, envia a luz aos homens que andavam em trevas: "Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens". Jo 1.4. O vocábulo para 'luz' neste contexto é o mesmo usado em 1 Jo 1.5 para Deus /phos/ e para 'trevas' é também /skotia/.
Agora, os homens não estariam mais na ignorância espiritual, porque o Senhor Jesus, o Filho do Deus Vivo, trouxe uma mensagem de vida a Palavra da Vida. Ele começa pregando na região de Cafarnaum, região da Galileia das nações e, seu primeiro discurso foi sobre arrependimento: "Arrependei-vos, porque é chegado o Reino dos Céus". Mt 4.17b.
Muitos profetas haviam profetizado sobre sua vinda, sobre seu ministério e sobre o seu reino. Daniel, entre eles, havia mencionado o reino quando interpretou o sonho de Nabucodonosor, rei da Babilônia (Dn 2.29-49). No verso 44 diz: "Mas nos dias desses reis, o Deus do céu levantará um reino que não passará a outro povo; esmiuçará e consumirá todos esses reinos, mas ele mesmo subsistirá para sempre". Amém!.
Ilustração: Josineide
O primeiro chamado ao Reino dos céus é o arrependimento. Arrependei-vos, /metanoeo/ significa mudança de mente para melhor, emendar de coração e com pesar os pecados passados, arrepender-se, não como simples mudança emocional, que equivale a remorso. Aqui trata-se de uma mudança de escolhas, reversão de propósito moral. O significado do vocábulo é expressivo de ação e fim moral, indicado não somente pela sua derivação, mas pela maior frequência do seu uso e pelo fato de ser usado muitas vezes no imperativo. Esse chamado a todos os homens foi feito de muitas formas no Velho Testamento, pelos profetas, mas especificamente, no Novo Testamento, esse chamado, iniciado por João, o Batista, o Elias que preparou o caminho para vinda do Messias, perpetuado por Jesus em todo o seu ministério e, posteriormente pelos apóstolos, o arrependimento nos introduz no Filho (Videira), ou em Seu Reino, ou Sua Igreja.
Sobre isso, o escritor aos Hebreus diz: "Havendo Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos nestes últimos dias pelo Filho. [...] Portanto, convém-nos atentar com mais diligência para as coisas que já temos ouvido para que em tempo algum nos desviemos delas". Hb 1.1; 2.1.
Quando uma pessoa se arrepende, ela "cai em si" e, de repente, muda de ideia acerca do que está fazendo; muda seu objetivo e sua ação; mas precisamos entender "onde" estamos, isto é, entender a nossa condição de pecador para nos arrependermos e, desse modo, entrarmos no reino dos céus.
Ilustração: Josineide
"E Jesus, andando junto ao mar da Galileia, viu a dois irmãos: Simão, chamado Pedro, e André seu irmão, os quais lançavam as redes ao mar porque eram pescadores. E disse-lhes: Vinde após mim, e eu vos farei pescadores de homens". Mt 4.18,19.
E Jesus percorria toda a Galileia, ensinando nas sinagogas e pregando o Evangelho do reino, e curando todas as enfermidades e moléstias entre o povo, de sorte que ficou conhecido em toda a parte. Por causa dos milagres que realizava, sua fama percorreu toda a Síria, e traziam para que fossem curados por ele todos os que padeciam, acometidos de várias enfermidades e tormentos, os endemoniados, os lunáticos e os paralíticos, e ele os curava. "E seguia-o uma grande multidão da Galileia, de Decápolis, de Jerusalém, da Judeia, e de além do Jordão". Mt 4.23-25. Encerrando essa passagem, Mateus registra um dos maiores sermões ministrados pelo Senhor, no capítulo 5: O Sermão do Monte, ou o Sermão das Bem-aventuranças. Mencionarei aqui porque, inicialmente, precisamos ter em mente o que é estar em Cristo. Estar nessa posição tem algumas implicações. E precisamos nos ater um pouco nelas. Nesse contexto, Jesus fala aos seus discípulos.
Jesus disse: Bem-aventurados [isto é, felizes]: Mateus 5.1-16
a. Os humildes, porque deles é o reino dos céus!
Em algumas versões o vocábulo é substituído pela expressão "pobres de espírito". Mas quem são os pobres, os humildes? O vocábulo 'pobre' /ptocheuo/ em sua forma verbal significa ser um mendigo, significa mendigar, ser pobre, e como adjetivo /ptochos/ diz respeito, além disso, a uma pessoa destituída da riqueza do aprendizado e da cultura intelectual que as escolas proporcionam, por se apropriarem com mais entrega aos tesouros celestes, como as pessoas que necessitam de ajuda [e que são opostos de orgulhosos].
Em Mateus 11.28-30 Jesus vai nos dizer que ele é humilde de coração. No contexto anterior, Jesus está censurando as cidades de Betsaida, Corazim e Cafarnaum, os lugares onde havia iniciado seu ministério, e realizado muitos milagres e, em troca, recebeu a incredulidade das três cidades. Eles não se arrependeram dos seus caminhos, nem mesmo tendo Jesus habitado entre eles, continuaram com seu orgulho, altivez e impenitência. Mas, ao mesmo tempo, Jesus agradecia ao Pai por haver ocultado essas coisas dos sábios e entendidos e revelado "aos pequeninos" (Mateus 11).
Jesus disse que o Pai entregou tudo ao Filho, e o Filho revela àquele a quem quiser. "Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas". (Mt 11.29). O vocábulo usado nessa declaração do Senhor é /tapeinos/ que, metaforicamente significa uma condição humilde e de grau baixo; abatido pela tristeza, rebaixado; deprimido; humilde de espírito; num mau sentido, indica aquela pessoa que se comporta de forma humilhante, que se submete à servidão [Strong 5011]. De fato, Jesus tomou a forma de servo, sendo ele mesmo Deus. Ele se rebaixou não apenas à condição humana, mas à condição de servo, conforme nos afirma Paulo aos Filipenses, capítulo 2.
Então, o Reino dos céus é daqueles que se rebaixam até o solo. Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o Reino dos céus.
Então, fazendo um link com o chamado ao arrependimento, primeiro o Senhor nos chama ao arrependimento. E só os pobres de espírito serão capazes de se humilhar e de se rebaixar, a fim de entender que sua condição é de extrema necessidade de perdão.
Pedro diz: "Humilhai-vos, pois, debaixo da potente mão de Deus, para que a seu tempo, vol exalte". 1 Pe 5.6. /Tapeinothete/ do mesmo vocábulo /tapeinoo/, Pedro nos diz para nos colocarmos em categoria abaixo de outros que são honrados ou recompensados, tendo uma opinião modesta de nós mesmos, comportando-nos de modo modesto, destituído de toda arrogância.
b. Os que choram, porque eles serão consolados!
O vocábulo usado para choram é /pentheo/ que significa prantear ou lamentar por alguém. Vem do vocábulo /penthos/ que significa lamentação. Mais apropriadamente, um lamento pela morte e figurativamente, um lamento pela esperança pessoal num relacionamento. Nas palavras de Tiago: "Senti as vossas misérias, e lamentai e chorai; converta-se o vosso riso em pranto e o vosso gozo em tristeza". Tg 4.9.
No versículo 6, Tiago diz que Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes. É uma caminhada que começa com o arrependimento, a humilhação, o choro, sentindo as nossas misérias, lamentando e chorando. Porque, ao final, seremos consolados. Tanto a resignação do coração quanto a atitude diante do Deus que nos chamou das trevas para a Luz devem estar alinhadas: disposição e atitude.
De que forma o Senhor nos consolará? Agora que fazemos parte do Seu Reino, Ele limpará de nossos olhos toda a lágrima.
Ilustração: Josineide
"E Deus limpará de seus olhos toda a lágrima, e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor, porque já as primeiras coisas são passadas". Ap 2.4.
c. Os mansos, porque eles herdarão a terra!
O vocábulo manso em alguns contextos foi traduzido para o português como humilde. No original é /praeis/ ou /praus/, que significa gentileza, bondade de espírito, humildade. Diante de Deus, humildade é a disposição de espírito com a qual aceitamos sua forma de lidar conosco como a melhor, sem, no entanto, disputar ou resistir. No Velho Testamento, os humildes eram os que confiavam inteiramente em Deus, mais do que em suas próprias forças, para defendê-los contra toda injustiça. Assim a atitude humildade para com os ímpios implica em saber que Deus está permitindo as injúrias que infligem, que Ele os está usando para purificar seus eleitos, e que livrará Seus eleitos a Seu tempo. (Is 41.17; Lc 18:1-8). Bondade ou humildade são opostos à arrogância e egoísmo e originam-se na confiança na bondade de Deus e no Seu controle sobre a situação. A pessoa bondosa não está centrada no seu ego. Isto é obra do Espírito Santo, não da vontade humana. (Gálatas 5:23). [Strong 4239].
Isaías 41.17: "Os aflitos e necessitados buscam águas, e não há, e a sua língua se seca de sede; eu o Senhor os ouvirei, eu, o Deus de Israel não os desampararei". Lucas 18.1-8 traz uma parábola [da viúva persistente] que demonstra outra pessoa que tinha sede de justiça. Esses são exemplos de pessoas mansas, como Jesus [manso e humilde de coração Mt 11.29]. Esse tópico faz um link com os anteriores; quando nos arrependemos, demonstramos humildade, então, conhecendo nossa condição, nos humilhamos diante do Senhor, choramos e lamentamos as nossas misérias. Padecemos injúrias, suportando como nosso Senhor também suportou, então, cumpre-se o que o Senhor diz no próximo tópico: seremos saciados! O servo do Senhor Jesus tem um Justo Senhor e Juiz!
d. Os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos!
O versículo 17 de Isaías 41 nos afirma que o Senhor nos ouve e não nos desampara. Ele sacia a nossa sede e fome de justiça. O mesmo profeta Isaías convoca o povo a procurar a salvação, dizendo: "Ó vós que tendes sede, vinde às águas, e vós os que não tendes dinheiro, vinde, comprai, comei, sim, vinde e comprai sem dinheiro e sem preço, vinho e leite". O vinho é para o cristão maduro, o leite para a criança. Então é para todos, de todas as idades. Vinho também é sinônimo de alegria, de festa. Foi usado pelo Senhor para dizer que aquele cálice de vinho era a Nova Aliança no seu sangue.
O que tem fome, tem fome de pão, Jesus é o pão que desceu do céu. Aquele que tem sede, tem sede de água, Jesus é a fonte das águas vivas. Ele disse que aquele que beber da água que ele der, nunca mais terá sede, "porque a água que eu lhe der fará nele uma fonte de água a jorrar para a vida eterna" Jo 4.14b.
Jesus também disse que a todo o que tiver sede, lhe dará da fonte da água da vida (Ap 21.6). Ele é "Aquele que não conheceu pecado, [e que Deus] o fez pecado por nós; para que nele, fôssemos feitos justiça de Deus" 2 Co 5.21.
Aqui neste tópico vemos um chamado para aquele que é humilde e manso. Aquele que não se ensoberbecerá diante das circunstâncias e nem diante dos outros. Mesmo sendo injuriado, perseguido, maltratado, odiado, escarnecido, crucificado, Jesus, nosso exemplo, não recuou. Nós também seremos injuriados, perseguidos, odiados, escarnecidos e crucificados. Mas, como servos do Senhor, mansos e humildes, nós confiamos que Deus, a seu tempo [Kairós] nos exaltará. Porque convém que assim seja. Que padeçamos, mas com uma certeza: há uma mão que segura o chicote; há uma mão que nos ensina. Esse ensinar muitas vezes traz disciplinas de diferentes formas. Nós, como servos amados e filhos amados, podemos suportar, porque o mesmo Senhor Jesus suportou e nos deu exemplo. Ele não gerou filhos arrogantes, indisciplinados, desobedientes, soberbos, mas filhos que, como Ele, sabe e conhece o tempo e o modo. Porque o temor do Senhor nos fará aceitar a correção.
e. Os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia!
/Eleemones/ do vocábulo /eleemon/ que significa misericordioso. A forma verbal /eleeo/ significa ter misericórdia de; ajudar alguém aflito ou que busca auxílio; ajudar o aflito, levar ajuda ao miserável; experimentar misericórdia. Em termos práticos, seria fazer ao outro aquilo que você gostaria que o Senhor fizesse a você. É como se hoje fôssemos testados em nosso viver. O Senhor exerceu a nós a misericórdia; ele não nos condenou quando deveríamos ser condenados. Na sua vinda ele nos dará a Vida Eterna. Então, como seus servos, Deus espera que tenhamos essa mesma atitude em relação ao próximo. Em nossas próximas anotações, falarei sobre a permanência em Jesus, no Amor de Jesus, na Palavra de Jesus, como mencionado por Ele em João 15. Até o presente momento, estamos construindo um pano de fundo para entendermos nossa posição em Cristo Jesus, para então analisarmos o que isso significa.
A nossa misericórdia em relação ao próximo é uma expressão da misericórdia de Deus por nós. É um modo de frutificar. Nos quatro primeiros tópicos pudemos ver o arrependimento como uma atitude e disposição; a humildade e a mansidão como uma qualidade daquele que agora está em Cristo. E o presente tópico já nos remete à nossa relação com o próximo. Agora o Senhor tem um caminho em nós e Ele vai em direção ao próximo. E nós, vamos também com Ele?
A misericórdia combina intenção com ação, compaixão, piedade solidária. Eu e o outro estamos sujeitos às mesmas coisas nesta terra. Então, o que de Deus há em mim que posso compartilhar com os outros?
f. Os limpos de coração, porque eles verão a Deus!
Aqui fala de uma vida interior, não apenas aparência externa. O vocábulo para limpo é /Katharoi/ de /kataros/ que quer dizer limpo, puro, purificado pelo fogo. Numa comparação, como uma vinha limpa pela poda e bem preparado para carregar de fruta. Num sentido ético é estar livre de desejo corrupto, de pecado e culpa; livre de qualquer mistura com o que é falso; genuíno, sincero, sem culpa, inocente.
Toda a realidade da vida que o Senhor nos fala vem do mais profundo interior, do coração, da alma. Quando Jesus diz: Vós já estais limpos pela Palavra que vos tenho falado (Jo 15.3) é o mesmo vocábulo usado neste contexto por Mateus (Mt 5.8). Limpos de coração. Sem mácula. Apenas esses, porque foram santificados, poderão ver a Deus. Nós tocamos nesse assunto na publicação anterior quando falamos a respeito da santificação.
g. Os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus
Do vocábulo /eirenopoios/ que significa pacificador, aquele que ama a paz. Isaías ao profetizar sobre o advento e o poder do Messias diz: "Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu, e o principado está sobre os seus ombros; e o seu nome será Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz". Is 9.6. O vocábulo usado para Paz em Isaías é /Shalom/ e envolve uma diversidade de significados como completo, saúde, bem-estar, paz, totalidade (número); segurança, saúde (físico); sossego, tranquilidade, contentamento, amizade com os homens (quando relacionado às relações humanas) e com Deus no relacionamento proveniente da aliança; paz como adjetivo.
A nossa paz deve ser um firme testemunho de nossa comunhão com o Senhor, já que, para o mundo, os servos de Jesus Cristo, os pacificadores, serão chamados filhos de Deus. Foi isso que Jesus disse, também em João 15, e que mencionaremos em uma postagem oportuna.
h. Os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o Reino dos céus
O Reino dos céus é dos humildes e dos que sofrem perseguição por causa da justiça. O vocábulo justiça vem do vocábulo grego /dikaiosune/ que, num sentido amplo, significa aquele que é como deve ser, justiça, condição aceitável para Deus. Também diz respeito à doutrina que trata do modo pelo qual o homem pode alcançar um estado aprovado por Deus. Integridade, virtude; pureza de vida; pensamento, sentimento e ações corretos. E, num sentido restrito, justiça ou virtude que dá a cada um o que lhe é devido.
i. Bem-aventurados sois vós quando forem injuriados e perseguidos, por minha causa.
Nesse aspecto Jesus compara todos os seus servos perseguidos por amor do seu nome com os profetas que igualmente foram perseguidos.
Paulo diz aos irmãos de Filipos que "a vós vos foi concedido, em relação a Cristo, não somente crer nele, como também padecer por ele. Tendo o mesmo combate que já em mim tendes visto e agora ouvis estar em mim". (Fp 1.29,30).
Nesse sermão do monte, o Senhor começa a descrever aqueles que farão parte do Reino dos céus:
- os humildes, ou pobres de espírito;
- os mansos;
- os misericordiosos;
- os limpos de coração;
- os pacificadores.
São 05 características que o Senhor demonstrou em si mesmo. Mas esses servos não possuem apenas essas características, porque eles também:
- choram
- têm fome e sede de justiça;
- sofrem perseguição por causa da justiça;
- são injuriados e perseguidos por causa do nome de Jesus, por causa do próprio Senhor deles.
Agora o Senhor usa duas ilustrações para diferenciar os seus servos do restante dos homens:
- vós sois a luz do mundo;
- vós sois o sal da terra.
Não há como uma luz não ser percebida em meio à escuridão, mesmo a quilômetros de distância. Por isso, o Senhor diz que não é possível esconder uma cidade edificada sobre um monte. Estando no Senhor que, como vimos no início, é a Luz e nele estava a Vida e a vida era a Luz dos homens (Jo 1.4), como seus servos, agora também somos luz, porque estamos nele e Ele está em nós.
"Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens; para que vejam as vossas boas obras, e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus" (Mateus 5.16).
A Palavra do Senhor nos limpa de tal modo que a vida, ou a luz, de Cristo passa a ser manifesta através da nossa vida, de nossas ações, de nosso caráter; de modo que podemos dizer como Paulo: "Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne vivo-a na fé no Filho de Deus, o qual me amou e se entregou a si mesmo por mim". Gálatas 2.20.
Esse é o "vós já estais limpos pela Palavra que vos tenho falado".
Ilustração: Josineide.
Que Deus abençoe tua vida em Cristo Jesus.
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