Principais "lições" extraídas da carta de Paulo aos Filipenses

Implicações para nosso viver em Cristo

Nós fizemos em postagem anterior apenas uma breve consideração, um breve resumo da carta de Paulo aos Filipenses. Nesta postagem, farei considerações em torno de alguns termos específicos utilizados por Paulo em sua epístola, bem como sua aplicação para nosso viver em Cristo Jesus. Convido você a ler comigo a Bíblia, buscando nos contextos bíblicos, quando possível, no texto o vocábulo original, a fim de compreendermos a mensagem que o Espírito Santo deixou para nós.

Ao meditar nas palavras dessa carta de Paulo e por onde o Espírito Santo nos conduzia, fiquei profundamente convencida de que o Espírito Santo deixou propositadamente ensinos para nossa edificação, consolo e exortação, especialmente nesses últimos dias. Lembrando-me dos irmãos daquele contexto, tentando construir um quadro na minha mente, pensei, será que, Paulo, quando escreveu essa carta, tinha noção de que quase dois mil anos depois ela seria ainda lida por muitos e muitos irmãos em toda a parte do globo terrestre? Aqueles amados irmãos nem existem mais. Mas diante de Deus, sei que seu depósito ainda está vivo.

Filipenses 1:1a Paulo e Timóteo "servos" do Senhor Jesus

O servo é aquele que serve a alguém, que não tem direitos e nem bens. Em alguns contextos das Escrituras Sagradas é usado o termo /doulos/, como aqui em Filipenses 1.1 que tanto pode denotar um servo quanto um escravo que oferece de forma voluntária os seus serviços, a sua obediência, a sua devoção e a sua lealdade. Por metáfora, seu uso pode definir aqueles que servem ao nosso Senhor Jesus Cristo. 

A Bíblia Plenitude faz o seguinte comentário sobre o servo /doulos/: Esse escravo ou servo é um empregado que recebeu salário que, normalmente tinha habilidade e responsabilidades consideráveis e que costumava ser bem tratado e protegido pela lei. Mas um servo não poderia renunciar ao trabalho por outro empregador. Eles eram pessoas altamente educadas e habilidosas, bem como trabalhadores comuns. 

Segundo Strong [doulos - 1401], o servo é alguém que se rende à vontade de outro; aquele cujo serviço é aceito por Cristo para estender e avançar a sua causa entre os homens. O servo é dedicado ao próximo, mesmo em detrimento dos próprios interesses. Ou seja, o servo não tem mais vontade própria. Por isso, quando Jesus chama alguém, um dos requisitos básicos é negar a si mesmo (Mt 16.24).

Por que /doulos/ é alguém que recebeu salário? Basicamente, o salário é uma retribuição por um serviço prestado. A bíblia diz que todo ser humano é escravo de alguém, ou de alguma coisa e, por conseguinte, recebe como retribuição o seu salário. Vejamos o que Paulo disse em sua epístola aos Romanos 6:20-23: "Porque quando éreis servos do pecado, estáveis livres da justiça. E que fruto tínheis, então, das coisas que agora vos envergonhais? Porque o fim delas é a morte. Mas, agora, libertados do pecado e feitos servos de Deus, tendes o vosso fruto para a santificação e, por fim, a vida eterna. Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna, por Cristo Jesus, nosso Senhor".

Há dois senhores descritos por Paulo: o pecado e Deus. Na condição de pecadores, os frutos são para a morte, logo, o salário do pecado é a morte. Mas, quando somos libertos e feitos servos de Deus, os frutos são para a santificação, resultando em vida eterna, por Cristo Jesus, nosso Senhor. 

Paulo diz que fomos libertos do pecado. Jesus disse: "Em verdade, em verdade vos digo que todo aquele que comete pecado é servo do pecado. Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres". Jo 8:34,36. O vocábulo usado para 'livres' é /eleutheros/ que significa aquele que é nascido livre, isento de obrigação legal; oposto de escravidão, escravizado. Esse termo provém do verbo /eleuthomai/ "ir e vir", que descreve a liberdade de ir onde se escolhe ir. (Plenitude).

Jesus nos deu liberdade, nos tornou livres do domínio do pecado. Livres, podemos nos submeter à vontade de Deus de nos santificar, a fim de obtermos a vida eterna como salário. Paulo diz aos Gálatas 5.1, 13: "Estai, pois firmes na liberdade com que Cristo nos libertou e, não torneis a colocar-vos debaixo do jugo da escravidão/servidão. [...] Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade. Não useis então da liberdade para dar ocasião à carne, mas servi-vos uns aos outros pelo amor". 

Voltando à carta de Paulo aos Romanos 6.22:"Libertos do pecado e feitos servos de Deus, tendes o bosso fruto para a santificação e, por fim, a vida eterna". O escritor aos Hebreus 12.14 também diz: "Segui a paz com todos; e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor". Nós precisamos de santificação para vermos o Senhor. "Ora, amados, pois que temos tais promessas, purifiquemo-nos de toda imundícia da carne e do espírito, aperfeiçoando a santificação no temor de Deus". 2 Co 7.1. "Para confortar o vosso coração, para que sejais irrepreensíveis em santidade diante de nosso Deus e Pai, na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, com todos os seus santos" 1 Ts 3.13. Nesses versículos podemos entender a santidade em 3 aspectos:

                                                   1. processo

Santidade como                         2. qualidade

                                                   3. condição

1. Santidade como um processo

Como um processo, devemos entender a santidade como iniciada, trabalhada e concluída em nós por Deus. "Tendo por certo isto mesmo; que aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao dia de Cristo". Fp 1.6. Mesmo sendo uma obra efetuada por Deus, não somos parte passiva nesse processo. Como mencionado em 2 Co 7.1, nós aperfeiçoamos a santificação quando nos purificamos de toda imundícia da carne, no temor de Deus [modo].

Esse processo de santificação envolve a purificação; é um processo de separação entre o que é santo e o que é profano. Para tocar nesse assunto, Paulo começa fazendo uma dicotomia, trazendo algumas questões para os irmãos em Corinto: Que comunhão tem a luz com as trevas? Que sociedade tem a justiça com a injustiça? Que concórdia há entre Cristo e Belial? Ou que parte tem o fiel com o infiel? Que consenso tem o Templo de Deus com os ídolos?

Esses termos representam termos opostos e completamente excludentes: luz e trevas; justiça e injustiça; Cristo e Belial; fiel e infiel; Deus e ídolos. A bíblia diz que nós somos templo de Deus. Se Deus está em nós, Deus é Luz, nele não há trevas; Deus é justo, nele não há injustiça; Cristo e o Pai são um. O seu Reino é da Verdade. Eles são comunhão, e a Belial fala de adversário, fala daquele que se opõe. Se somos o templo de Deus, não podemos ter o coração entulhado de ídolos, sejam eles de que natureza for. Onde há a presença de Deus não pode haver espaço para nosso antigo modo de vida.

Deus trouxe para mim, enquanto sua morada, a Luz, a Justiça, o Filho, a Comunhão, a Verdade, a Unidade, o Santo Espírito, o Amor. A sua presença me purifica, me limpa e me santifica. Jesus disse que não somos do mundo, como ele também não o é. E roga ao Pai, dizendo: "Santifica-os na verdade; a tua Palavra é a Verdade" Jo 17.16,17. Jesus também disse: "Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida. Ninguém vem ao Pai senão por mim" Jo 14.6.

Nós que servimos a Cristo, voluntariamente, oferecemos a Cristo não somente nosso trabalho como servos, mas nossa obediência, nossa devoção e nossa lealdade. Dizer que somos devotos a Cristo significa dizer que observamos as práticas inspiradas pelo zelo, pelo apego sincero e fervoroso ao Filho do Deus Vivo. Nosso amor ao Senhor é que deve nos impulsionar a uma vida de obediência, devoção e lealdade a Ele. Cooperando nesse processo de santificação.

2. Santidade como qualidade

Disse o Senhor a Moisés: "Fala a toda a congregação dos filhos de Israel, e dize-lhes: Santos sereis, porque eu, o Senhor vosso Deus, sou santo". Lv 19.2.

O vocábulo santo /qadowsh - 06918 Strong/ ou /qadosh/ significa separado, dedicado a propósitos sagrados, santo, sagrado, limpo moral ou cerimonialmente puro. O verbo /qadash/ significa separar alguém para objetivos sagrados. A santidade, como vimos, é a total separação de tudo o que é profano e imundo e que corrompe, ao mesmo tempo, a dedicação a tudo o que é santo e puro. (Bíblia Plenitude).

 Deus é completamente santo em sua natureza, motivos, pensamentos, palavras e ações. E quando ele nos dá uma ordem imperativa: Sede santos! A fim de vir e habitar em nós, Deus então, por meio do trabalhar da cruz, mediante o agir do Santo Espírito e com a nossa total entrega, opera a santificação em nós. Primeiramente, mudando nossa natureza, antes pecaminosa, corruptível, agora gerados de novo, de semente incorruptível, santa e pura que é a própria natureza divina, comunicada a nós.

Depois de transformar a nossa natureza, o Senhor começa a tratar as demais áreas de nosso ser: nossos motivos (o que nos impulsiona?); nossos pensamentos; nossas palavras e, por fim, nossas ações. Não adianta tentarmos mudar apenas nosso comportamento ou modos de agir por intermédio de regras e imposições de usos e costumes. Temos que passar por todo esse processo para, então, começarmos a refletir a luz (vida) do Senhor em nós. Aí podemos dizer que Ele habita em nós. 

O que faz a luz 'sair' da candeia é o fato de o pavio estar mergulhado no azeite, que está em seu interior. A Luz é manifesta. Deus é Luz, Jesus disse que Ele é luz e também que nós somos a luz (Mt 5.13-15). Ainda em Levítico 20.7,8 o Senhor diz: "Portanto, santificai-vos, e dede santos, pois eu sou o Senhor vosso Deus. E guardai os meus estatutos, e cumpri-os. Eu sou o Senhor que vos santifica". V. 27: "E ser-me-eis santos, porque eu, o Senhor, sou Santo e vos separei dos povos para serdes meus".

A santidade como uma qualidade diz respeito a uma criatura em sua totalidade, inclusive maneira de viver entre aqueles que não são santos. É Deus quem nos santifica desde nossa natureza. Sobre isso, o apóstolo Pedro diz: "Portanto, cingindo os lombos do vosso entendimento, sede sóbrios, e esperai inteiramente na graça que se vos ofereceu na revelação de Jesus Cristo, como filhos obedientes, não vos conformando com as concupiscências que antes haviam em vossa ignorância; mas, como é santo aquele que vos chamou, sede também santos em toda a vossa maneira de viver. Porquanto está escrito: sede santos, porque eu sou Santo".1 Pe 1.13-16.

O proceder do servo do Senhor, comprado pelo precioso sangue de Jesus para uma viva esperança é um proceder santo, porque nele habita o próprio Deus. 

3. Santidade como condição

A nossa condição não é mais de pecadores condenados, mas somos agora justificados (tornados justos) mediante a fé em Cristo Jesus, reconciliados com Deus, salvos da ira futura; temos agora uma nova condição: somos filhos de Deus.

Ainda segundo o apóstolo Pedro: "Eleitos segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a aspersão do sangue de Jesus Cristo". 1 Pe 1.2a. Também em Efésios 1.4 lemos: "Como também nos elegeu nele [isto é, em Cristo Jesus nosso Senhor] antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor".

Nossa condição enquanto eleitos é para uma vida de santificação do Espírito; para sermos santos e também irrepreensíveis diante do Senhor nosso Deus em amor. A santidade na vida do servo de Cristo Jesus é um processo durante toda a sua vida. Um cristão que avança em santificação é uma pessoa em crescimento espiritual a fim de alcançar a maturidade. Através desse processo, ele se torna santo em toda sua maneira de viver, passando a santidade ser uma qualidade daquele que foi chamado das trevas para a maravilhosa luz do Senhor. A condição desse servo, santo agora, é de filho amado, irrepreensível, aguardando a vinda de seu Senhor em vigilância, sendo sóbrio em todo o tempo.

Ao sermos participantes desse processo, se cumpre o que foi dito pelo apóstolo Pedro quando diz: "Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo que, segundo a sua grande misericórdia, nos gerou de novo para uma viva esperança, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos". 1 Pe 1.3. Somos de novo gerados de uma semente incorruptível para uma viva esperança. 

Sermos servos de Jesus Cristo é estarmos sujeitos, por nossa própria vontade, a Deus, ao seu serviço, em obediência, lealdade e devoção. E nos colocarmos debaixo de sua potente mão, deixando que Ele opere em nós a santificação. 

Que o Senhor venha falar em nossos corações a cada dia, transformando-nos e nos santificando.

Deus abençoe tua vida em Cristo Jesus.